Vereadora sofre ameaças após denunciar suposta fraude em concurso público

Vereadora  sofre ameaças após denunciar suposta fraude em concurso público

Convencida de que havia irregularidades no preenchimento das vagas, Roseli da Silva Santos procurou o MP para prestar depoimento


Vereadora de Itati sofre ameaças após denunciar suposta fraude em concurso público Mauro Vieira/Agencia RBS
A casa e a bicicleta da vereadora Roseli foram alvejadas por tiros na madrugada de sábado Foto: Mauro Vieira / Agencia RBS
 
JULIANA BUBLITZ
Há mais de dois meses que a comunidade de Itati, distante 160 quilômetros de Porto Alegre, vive sobressaltada. Desde que denunciou suposta fraude no concurso público da prefeitura, a vereadora Roseli da Silva Santos tem sofrido ameaças.

Na madrugada de sábado, o estampido de quatro disparos atingiu a residência da vereadora Roseli da Silva Santos (PP) e acabou com a paz na vizinhança.

— Aqui, ninguém mais dorme tranquilo — resume uma moradora que, como a maioria, prefere o anonimato.

Tudo começou no fim do ano passado. Convencida de que o concurso público promovido pela prefeitura em novembro para preencher 81 vagas havia sido maculado por interesses escusos, Roseli procurou o Ministério Público e prestou depoimento.

A partir dali, uma investigação ruidosa teve início e 41 pessoas acabaram indiciadas pela equipe do delegado Adriano Koehler Pinto, da Delegacia da Polícia Civil de Terra de Areia. Um dos suspeitos de liderar o esquema, o secretário de Administração do município, Oziel Witt, foi preso.

— O que temos em Itati é uma verdadeira quadrilha. É coisa grande — define o inspetor Paulo Lamas.

Segundo as investigações, a maioria dos aprovados no concurso seria ligada a funcionários da prefeitura, entre eles o prefeito Luiz Carlos Chaves e o secretário Witt. Esses candidatos teriam deixado os cartões de resposta praticamente vazios no dia da prova.

Posteriormente, suspeita-se de que teriam sido preenchidos com as respostas certas e enviados para correção, resultando na aprovação dos envolvidos. Domingos Sinhorelli Neto, advogado de Witt, nega envolvimento de seu cliente na suposta fraude e nas ameaças contra a vereadora.

MP solicitará que prova seja anulada

A situação paralisou a cidade de 2,6 mil habitantes, especialmente quando começaram a ressoar as notícias de ameaças contra Roseli – que passou a receber segurança da Brigada Militar dia e noite.

Pelo menos metade das vagas do concurso foi preenchida, e as incertezas em relação ao futuro amplificaram o desconforto. Membros do PP, partido da vereadora, e do PMDB, que comanda a prefeitura, passaram a brigar em público.

Com medo de represália, poucos itatienses se aventuravam a comentar o caso ontem. Na prefeitura, o vice-prefeito Gilvan Neubert (PMDB) reclamava da paralisia geral – muitos servidores sequer conseguiam trabalhar em função da ansiedade.

— Tudo o que queremos é esclarecer isso logo. Do jeito que está, não pode continuar — diz o vice.

Entre os motivos do silêncio, está a proximidade: todos se conhecem e têm receio de criar mal-estar – ou inimizade. Mas há exceções. Da janela de sua casa, a agricultora Nádia Kellermann, 26 anos, contou ter sido uma das candidatas reprovadas:

— Eu queria a chance de fazer a prova de novo. Se for verdade, é muito injusta essa história toda.

No que depender do Ministério Público, é exatamente o que vai ocorrer.

— Vamos ajuizar uma ação civil pública para pedir a anulação do concurso e das nomeações já executadas. Chegamos a descobrir casos de candidatos que estavam viajando no dia do exame, sequer responderam às questões, e ainda assim foram aprovados — diz o promotor Reginaldo Freitas da Silva, de Santo Antônio da Patrulha.


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