JANELAS




Desço a rua principal deste lugarejo, com os olhos fixos sempre no amanhã.
O amanhã sempre é surpresa, descortinar as manhãs é o segredo.


Nesta rua centenas de bosques se chamam solidão e anjos habitam os postes, lembram
o natal que traduz alegorias em festa. 

Sem duvida o povo precisa de festa, lazer precisa diversão entretenimento precisa distribuição justa. Mas o que move os sentimentos chamam alegria, saudosismo ou a incompleta formatação
do ser como sociedade justa.


Tenho habilidades no olhar, e, preservo meu caminhar rotineiro, já não temos mais casarões tombados patrimônio da historia, temos algumas ruínas que o tempo com seu vento suave aos poucos lambe escombros. 

Mas falar com coração e cantar a alma se desfazendo das roupas da realidade vou colorindo plenamente os movimentos das ruas que as vezes formam cacimbas em algum buraco após as chuvas.

Minha praça é minha morada, lembro o busto impávido Rui Barbosa, logo ali quadras abaixo o
nosso rio continua seu rumo acariciando barrancas.

A vida é bem assim, como um corredor da Fundarte, uma avenida, um teatro vazio, com senha  definida para os enigmas do tempo desnovelando pequenas historias.

Pelas manhãs nosso olhar na claridade reacende o bom deste nosso quintal.
Tudo se move dentro das especulações, dentro da previsão, muitos morrem,
outros tantos nascem, e historicamente somos pobre. Mesmo com grupos relevantes
em cada área de atuação nada andamos a passos lentos nesta cidade das artes.

Há quem justifique a evolução, qual? Vou caminhando me indagando e descobrindo
o bom deste lugar, amo esta cidade que habito, e, cada curva, cada buraco a esperança
sempre é luz.

Longe dos atropelos dos corredores, reza a lenda, habita a paz
e o sorriso largo da felicidade, distante das ânsias deste capitalismo selvagem
e da desigualdade social...apenas o lamento das perdas, do que poderia ter
feito do que seria do que será.


Crédito: In Memorian Paulo Rodrigues