O envelhecimento produz mudanças internas e externas que requerem uma constante elaboração pelo indivíduo. Os aspectos psicológicos do envelhecimento envolvem o organismo como um todo.
As modificações orgânicas da velhice são fenômenos previsíveis diante dos quais o indivíduo se adapta de forma positiva ou a eles se entrega.
Examinando o fenômeno do envelhecimento de uma maneira objetiva, é importante que nos livremos da necessidade de idealizar a velhice como uma fase maravilhosa e sem problemas, ou encará-la com pessimismo onde apenas lhe são atribuídas doenças, solidão e perdas.
Como pode, então, o homem enfrentar o envelhecimento de maneira positiva sem cair nos extremos mencionados no parágrafo anterior?
O primeiro passo é aceitar que o envelhecer não chega de surpresa, mas sim, nos acompanha desde o nascimento. É necessário aceitar o transcorrer dos fatos. É um erro suportar apenas o inevitável processo do envelhecimento; é preciso aceitá-lo positivamente dizendo sim a essa nova etapa da vida.
Um segundo passo para um envelhecer saudável é a aprendizagem de uma atitude de desprendimento. No apogeu da vida o ser humano está, em geral, tão profundamente envolvido em afazeres diários que não pode considerar o mundo com desapego real. Com o passar dos anos o homem pode conseguir certo recuo em relação ao ambiente e as próprias posses, descortinando outros horizontes.
A atitude de espaço permite à pessoa conhecer o verdadeiro valor das coisas, sem interferência de interesses pessoais egoístas. Os mais velhos, neste momento, terão trocado a supremacia do poder pela posse da sabedoria. Essa sabedoria da velhice difere da inteligência perspicaz, pois não pode ser aprendida nos livros nem ser adquirida nas escolas.
Somente através de um longo processo que se estende pela vida toda, que cresce aos poucos e amadurece progressivamente é que esta sabedoria do coração pode ser adquirida. por isso, considero que a educação para a velhice deva construir uma atividade permanente e contínua, que se inicia na juventude.
A pessoa que ao longo de toda a sua existência soube se manter sensível e alerta ás inúmeras mudanças internas e externas pelas quais foi passando, adapta-se também ao processo de envelhecer. Ela adquire a sua maturidade e gradativamente adapta-se às transformações externas.
O principal problema que o idoso enfrenta atualmente é o preconceito etário que o isola na sociedade. A mudança de atitude e de cultura nesse sentido é uma das tarefas mais urgentes para aqueles que se dedicam ao problema da velhice.
Convencionou-se que o idoso é um ser pouco produtivo, incapaz de aprender e de evoluir com seu tempo. Por isso é amparado, tutelado e mantido á parte da participação social efetiva.
Passamos, então, a falar no problema social do envelhecer, sem atentar para o fato de que a sociedade atual não está preparada para proporcionar ao idoso condições de vida que lhe permitam realizar-se como ser atuante e útil à sociedade em que vive. Essa desvalorização da velhice tem grande repercussão nas atitudes do idoso, nas suas frustrações, nos seus ressentimentos. Isso porque o próprio idoso, fruto dessa sociedade, introjeta esses valores negativos, adotando um comportamento de passividade ou de agressão às gerações mais jovens, o que passa a "justificar" o preconceito de idade.
Engajar o velho na busca da qualidade de vida é fundamental na construção de uma nova sociedade e no processo de desenvolvimento. Envelhecer bem significa estar satisfeito com a vida atual e ter expectativas positivas em relação ao futuro.
O envelhecimento bem sucedido não é apenas um privilégio ou direito, mas sim, um objetivo, uma condição atingível por aqueles que lidam efetivamente com as mudanças que geralmente acompanham o tornar-se velho.
Portanto, não é difícil conquistar a qualidade de vida na velhice se, ao longo de toda sua vida, os homens fossem conscientizados da importância de promover a saúde física e mental, incluindo a oportunidade de manter o convívio social e familiar através de um processo educativo contínuo de amor e troca de experiências.
Elisi Maria Parcianello
Livro : Vivências & Receitas
Primeira edição 1999