Empreendedorismo e solidariedade na periferia






Thiago Vinicius é um empreendedor inquieto. Nascido no Campo Limpo, periferia da zona sul de São Paulo, com apenas 15 anos decidiu promover a educação ambiental e coleta seletiva no bairro e não parou mais. Hoje, o jovem é produtor cultural e promove ações ligadas à inovação social em alimentação, consumo, nutrição, economia solidária, cultura periférica, finanças sociais e startups.

Funciona na Casa Solano Trindade, conhecida como “Sebrae da periferia” e o banco União Sampaio, que fornece microcrédito para a comunidade. “Eu participei da primeira turma da Artemisia (Aceleradora de Negócios de Impacto Social) para a formação de empreendedores sociais, ali percebi o potencial que temos nas comunidades e entendi a importância de fomentar os negócios na periferia”, diz Thiago.

“Quando você chega na periferia percebe que tem muitos bares, muitas igrejas e muitas ONGs (Organização Não Governamental), mas a nossa proposta é conscientizar as pessoas de como funciona o sistema financeiro e colocar grana na mão dos empreendedores, para que possamos gerar renda”.

A partir dessa visão e juntamente com a União Popular de Mulheres, nasceu o banco União Sampaio, que atua no bairro desde 2009. A proposta é oferecer crédito para empreendedores e consumidores da região. O banco comunitário não faz consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), nem ao Serasa, a avaliação do perfil das pessoas é feita pela própria comunidade.

“Queremos que aquela mulher que está desempregada possa ir ao Brás comprar roupas e revender como sacoleira no bairro, para que ela tenha renda para cuidar da sua casa e dos seus filhos”. Quando o empréstimo é para consumo próprio, para comprar comida por exemplo, o banco usa uma moeda própria, o Sampaio, só aceito no comércio local.

“Emprestamos dinheiro a juros baixos, cerca de 2% e acompanhamos o desenvolvimento das pessoas”, explica Thiago. “Nesse período já movimentamos R$ 5 milhões, seja para consumo como para empreendedores”.

O banco comunitário exemplifica o conceito de economia solidária, que “se caracteriza por um conjunto de atividades, de produtos, de consumo, de aquisição de crédito que favoreçam a auto-gestão e interajam entre si”, explica a economista e professora do Insper, Juliana Inhasz. “O foco não é exatamente o lucro, mas no bem-estar agregado, em distribuir riquezas para alavancar setores”.

Essa é uma tendência mundial, como explica a economista, mas não há números precisos do quanto esse tipo de economia movimenta no Brasil. “Em países europeus, onde existe uma consciência maior sobre economia sustentável, muitas cooperativas se desenvolvem com o apoio e incentivo do Estado, aqui no Brasil, como falta estímulo, os preços dos produtos são altos e muitas vezes pouco acessíveis”.

Além das cooperativas de crédito que contribuem para o desenvolvimento local, como o Banco Solano Trindade, a agricultura familiar e a produção de produtos orgânicos são lembrados por Juliana como pilares da economia solidária no Brasil.

Na Casa Solano Trindade, por exemplo, que funciona como uma extensão do banco, os empreendedores ocupam as salas expondo seus produtos e serviços. Ali também tem acesso a orientação de contadores. “Ali também oferecemos um armazém que vende orgânicos, mostramos que é possível ter comida de qualidade a todos por um preço baixo”, diz Thiago. Os produtos são negociados com as famílias de agricultores de Parelheiros.