Brasil precisa de universidades que formem empreendedores



Poucos conhecem Ronald Degen e Silvio Aparecido dos Santos. Eles lançaram, solitariamente, ainda no início da década de 1980, os primeiros cursos de empreendedorismo do Brasil na FGV-SP e FEA-USP quando o termo sequer era conhecido no País. Neste momento, o saudoso professor Cleber de Aquino trazia empreendedores como Omar Fontana, Jorge Simeira Jacob, Matias Machline e Yvonne Capuano para conversar com os alunos, mas poucos se interessavam em ouvir suas trajetórias e aprendizados.

 Não havia nada de útil ali para quem sonhava em seguir o caminho do emprego vitalício em alguma grande empresa.

Mas veio a fase de forte crescimento da inflação associado à queda do PIB brasileiro na década de 1980 e abrir um negócio próprio se tornou um caminho obrigatório para sobreviver como foi o caso do engenheiro que virou suco. Após perder seu emprego em uma metalúrgica em 1982, o engenheiro Odil Garcez Filho tornou-se conhecido no País por abrir uma casa de sucos na Avenida Paulista.


Quase 40 anos depois, há diversos novos caminhos, e a situação do empreendedorismo em relação ao emprego inverteu de forma surpreendente. Em 2016, tornar-se dono de um negócio próprio era o quarto sonho mais desejado pelos brasileiros adultos segundo a pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor. Empreender só perde, em prioridade, para comprar uma casa própria, viajar pelo Brasil e comprar um automóvel. Ser empregado (fazer uma carreira em uma empresa) é apenas o 8º sonho, perdendo apenas para casar ou constituir uma nova família e comprar um computador ou smartphone.

Apesar da evolução da importância do empreendedorismo entre os brasileiros, muitas universidades e outras instituições de ensino superior ainda não priorizaram a educação empreendedora nas suas grades curriculares e muitos docentes ainda percorrem um caminho tão solitário como os dos professores Degen e Santos na década de 1980.

Em um momento em que a maior taxa de desemprego está justamente na faixa de idade entre os recém-formados, reitores e dirigentes de instituições de ensino superior deveriam priorizar de forma estratégica, integrada e, principalmente abrangente, diversas iniciativas de empreendedorismo.

Estratégica, incluindo o empreendedorismo como um dos pilares da formação dos seus egressos. O Senac-SP, por exemplo, há muitos anos incluiu a atitude empreendedora como um dos pilares da formação dos seus alunos. A Unicamp vai além e identifica os empreendedores formados pela instituição, mensurando seu impacto em receitas e geração de empregos, seguindo o modelo já adotado pelo MIT e Stanford.

Integrada, associando as diversas disciplinas da grade curricular com suas aplicações inovadoras e empreendedoras. Neste contexto, a FIAP extinguiu o formato tradicional de TCC e introduziu o modelo de startup como trabalho final de todos os cursos de graduação e pós.

E abrangente, permitindo diversas combinações e iniciativas que promovam o comportamento empreendedor de seus alunos, docentes, ex-alunos e outros membros da comunidade. No Insper isto já começa pelos nomes de empreendedores das sala de aula, passa por iniciativas como o Centro de Empreendedorismo e rede de investidores anjos, até permear em diversas iniciativas criadas e geridas pelos próprios alunos.

E em momentos como o atual em que muitos caminhos se fecham para quem perde o emprego e outros que tentam buscar novos caminhos para seguir em frente, os mais empreendedores constroem os seus.

Marcelo Nakagawa é Professor de Empreendedorismo e Inovação do Insper, Consultor Acadêmico de Empreendedorismo do SENAC/SP e da FIAP.

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