A proposta de redução da participação da União na Eletrobras, anunciada nessa semana
pelo governo, poderá impactar no preço da energia paga pelos
consumidores brasileiros. A previsão da consultoria Thymos Energia é de
que a tarifa tenha um aumento de 2% a 5% em um primeiro momento.
“O
preço vai para o patamar de mercado e, de alguma forma, isso vai dar um
ligeiro aumento nas tarifas”, diz o presidente da empresa, João Carlos
Mello. No entanto, a expectativa é de que o preço caia com o passar do
tempo, por causa das melhorias que devem ser implementadas na gestão da
Eletrobras. “No médio e longo prazo, esperamos que a Eletrobras seja uma
empresa mais ágil e mais eficiente, e portanto vai poder reduzir
preços, na medida em que vai ter uma competição de mercado”, avalia
Mello.
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico
(Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de
Castro, considera que a tarifa de energia vai ficar mais cara porque,
como empresa de predominância privada, a Eletrobras deverá transferir os
ganhos de produtividade para os lucros. “Para o consumidor, a notícia
não é muito boa”, diz o professor.
O consultor em energia do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Clauber Leite, acha
que o preço da energia vai aumentar porque, atualmente, as tarifas
estão com um nível mínimo, por causa do processo de cotização das usinas
da Eletrobras.
“Hoje as usinas da Eletrobras estão com uma
tarifa que só cobre a manutenção e operação delas. Então, o preço da
energia já está muito baixo, não há processo de eficiência ou
modernização que faça com que essa tarifa fique mais baixa. Então o que
vai acontecer com o processo de privatização é que a tarifa vai
aumentar”, diz. Para ele, o dinheiro arrecadado pelo governo com a
desestatização deveria ser usado pra garantir a modicidade tarifária,
diminuindo os impactos para os consumidores.
Com
47 usinas hidrelétricas, 114 termelétricas, duas termonucleares, 69
usinas eólicas e uma usina solar, a Eletrobras é responsável por um
terço do total da geração de energia do país. Também é a maior empresa
de transmissão de energia, com quase metade das linhas de transmissão do
Brasil.
Gestão
Por outro lado, os
especialistas acreditam que a redução da participação do governo no
capital da Eletrobras vai melhorar a gestão da empresa.
“A
Eletrobras foi muito usada como instrumento de política energética,
tendo que aceitar investimentos com pouca rentabilidade. Ao passar para o
capital privado, ela vai ter uma eficiência muito maior, é uma grande
empresa, tem um parque gerador e transmissor muito grande e rapidamente
vai ser eficiente”, avalia Nivalde de Castro, lembrando que nos últimos
20 anos a gestão da empresa foi marcada por uma interferência política
muito grande.
O presidente da Thymos considera que a proposta do
governo é bem estruturada e audaciosa. “Empresas modernas são assim,
basta colocar a governança de alto nível que você vai atingir uma
precisão melhor em termos de gestão. Não que as gestões anteriores
tivessem problemas, mas por ser estatal tem mais dificuldades em termos
de licitações, contratação. Já uma entidade privada, com uma governança
profissional vai dar mais agilidade para empresa”, avalia Mello.
Para
o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia
Elétrica (Abradee), Nelson Leite, a mudança vai melhorar a gestão da
Eletrobras, que ficará sem uma série de “amarras” que têm hoje como
empresa estatal. “O que se espera com essa medida é que a empresa fique
livre dessas amarras e ganhe eficiência. A sociedade toda ganha com
isso, a empresa tende a ter melhores resultados, tende a ser mais
eficiente”, diz.
Energia mais barata
A
expectativa do governo é de que a mudança de controle da Eletrobras para
a iniciativa privada favoreça, a médio prazo, uma tarifa de energia
mais barata. “Com a eficiência e redução do custo, nossa estimativa é de
que no médio prazo tenhamos uma conta de energia mais barata", disse o
ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, ao anunciar a desestatização.
O
presidente da Abradee também estima que a tarifa pode ficar mais barata
a médio e longo prazo, porque a Eletrobras deverá continuar repassando
os ganhos de eficiência para a modicidade tarifária, como já acontece
hoje. “Não é uma coisa imediata, não vai acontecer no dia seguinte. A
médio e longo prazo, há uma tendência que os ganhos de eficiência sejam
convertidos em tarifas mais baratas”, diz Nelson Leite.