Câmara Municipal e o empreendedorismo


De acordo com o Global Entrepreuneurship Monitor Portugal encontra-se no 44º lugar dos 69 principais países no ranking dos países mais empreendedores. Como qualquer empreendedor diria, vejo esta questão como uma oportunidade, desde logo porque fazemos parte daquelas economias em que o empreendedorismo é orientado para a inovação, a par da Alemanha, França, EUA ou do Reino Unido.

Entre 2007 e 2015, foram constituídas cerca de 310 mil empresas e outras organizações em Portugal (34 mil por ano, em média). Se andámos em queda entre os anos de 2008 e 2012, em 2013 acelerámos o processo de criação de empresas, o que culminou num recorde de quase 38 mil empresas em 2015. Destaco ainda que 63% do negócio das startups criadas neste período são dedicados à exportação. Mas será suficiente? O que podemos fazer mais para criar negócio e melhorar a economia nacional?

O espírito empreendedor, a fomentar nas escolas através de um currículo escolar que promova a vontade de criar o próprio negócio, é fundamental para valorizar o ensejo de chegar mais longe. Muito se tem caminhado nesse sentido, assim como no incentivo económico através da banca e de outras associações de microcrédito e de capital de risco.

Vejo aqui uma oportunidade para as próprias Câmaras Municipais terem um papel muito ativo. O objetivo é passar da simples “aceleração” nos serviços camarários para a implementação de novos negócios, até à criação de ninhos de startups que potenciem não só as ideias dos cidadãos locais, mas também dos concelhos limítrofes, do país ou de qualquer parte do mundo. Isto só se consegue, começando desde logo por identificar necessidades que existam no concelho, necessidades essas que possam ser colmatadas localmente, garantindo a criação de negócio. Paralelamente a autarquia deverá proporcionar as condições para que estes empreendedores se possam centrar nas suas ideias, disponibilizando todas as infraestruturas e serviços que os ajudem a desenvolvê-las.

E mais, numa fase posterior terem a oportunidade de implementá-las em espaços comerciais, polos empresariais, transportes, ou outras infraestruturas locais para as escalarem à dimensão que necessitam hoje e no futuro. É até uma oportunidade para os Municípios potenciarem as suas zonas industriais e a empregabilidade numa perspetiva de médio e longo prazo.

Se a nível profissional podem criar todas as condições para os empreendedores se centrarem nas suas ideias e crescimento das mesmas, os Municípios podem ir mais além e focar-se também no lado pessoal dos empreendedores. Preocupar-se em disponibilizar-lhes cultura, lazer, desporto, estadia, e todos os outros serviços que preencham as suas necessidades pessoais. Podem pensar nas suas famílias e em como estas podem fazer parte do ecossistema.

O empreendedorismo é claramente uma oportunidade que os Municípios têm de abraçar. Basta pensar que somos um país mais pequeno que muitos estados brasileiros ou americanos, dotado de excelentes infraestruturas de transportes e comunicações, que somos a porta de entrada na Europa e de saída para os países de língua portuguesa.