Estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) resolveram manter a ocupação do campus da instituição, no Maracanã, zona norte do Rio, mesmo após o anúncio por parte da universidade de que as aulas retornariam hoje (16) por decisão do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão. Os alunos cobram o pagamento dos terceirizados, bolsistas e cotistas, embora a universidade garanta que já tenha efetuado o pagamento. A paralisação já dura 21 dias.
A estudante de serviço social, Pamela Fagundes, desmentiu o suposto pagamento por parte da universidade e questionou o tratamento do estado com a educação. “Os salários continuam atrasados. Não houve pagamento. O reitor não conhece a situação da própria faculdade que ele administra, afinal, ainda temos terceirizados que não recebem desde outubro, isso sem mencionar o décimo terceiro. A UERJ está sendo precarizada, e estamos às vésperas de um corte de 46% nos investimentos. Isso provoca na gente a dúvida de qual é a prioridade do governo do estado: gasto com Olimpíadas e subsídios de empresas ou investimento na educação? Essa nossa postura é uma reafirmação de que não aceitaremos uma espécie de desmonte no setor.”
O pedido de reintegração de posse mencionado pela estudante foi negado pela juíza Ana Cecilia Argueso Gomes de Almeida, da 6a. Vara de Fazenda Pública da Capital, nesta terça-feira (15). A juíza solicitou o diálogo entre as partes para que haja um acordo.Para a estudante, há o temor por ameaças, já que os alunos estão sendo criminalizados. “Não somente aqui, como também na ocupação das escolas em São Paulo, nós estamos observando uma criminalização enorme do movimento estudantil. O pedido de reintegração de posse feito através do Vieiralves, nosso reitor, demonstra isso. Então a gente só exige respeito, pois somos grande parte da UERJ”, disse.
O coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Rio de Janeiro (Sintuperj), Jorge Luiz Matos de Lemos, condenou a ocupação. Para ele, os estudantes perderam as rédeas do movimento. “O sindicato apoia todo e qualquer movimento, mas os estudantes estão desrespeitando duas categorias importantes nessa discussão, que não estão em greve, que são os técnicos-administrativos e os professores. Nenhum setor pode se sobrepor ao outro. Isso é uma humilhação. Eu trabalho aqui há mais de 40 anos e nunca vi tamanha insensatez como a desse movimento”. Diferentemente dos estudantes, Jorge Luiz disse ter informações de que o pagamento de alunos e terceirizados já foi efetuado.
A funcionária da universidade, Alice Venturini, classificou o movimento como equivocado, e pediu uma mudança de foco aos estudantes. “Eu entendo a revolta, mas eles estão se manifestando no local errado. Se querem pressionar o Pezão, eles tem que ir para a Alerj [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro], e não tirar da gente o direito de entrar no nosso ambiente de trabalho."
Em comunicado divulgado no seu site, a UERJ, através do seu reitor Ricardo Vieiralves, orientou que os servidores da universidade encaminhem um email para o endereço presencauerj@gmail.com, comunicando que a pessoa não compareceu ao trabalho por ter sido impedida de adentrar pelos manifestantes."A partir de ontem, eles adotaram essa postura mais radical de não deixar, de fato, ninguém entrar. E sem ninguém entrar, eu, como funcionária do RH, não conseguirei processar a folha de pagamento, fazendo com que os servidores não recebam seu salário de dezembro, que é pago em janeiro. Eles acham que com essa postura, iremos adotar a causa , mas isso só afasta. O movimento se tornou algo antidemocrático, porque os estudantes falam o que querem,mas infelizmente não ouvem a outra parte”, lamentou.
Edição: Maria Claudia
Fonte: Agência Brasil