Bispo da Diocese de Montenegro Dom Paulo do Conto fala sobre a Campanha da Fraternidade em Montenegro


"Sempre foi meta da Igreja levar o homem para o mandamento do amor"


Com o tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), a Campanha da Fraternidade 2015 teve sua abertura oficial na manhã de quarta-feira, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília. Neste ano, a ideia é aprofundar, a partir do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade como serviço ao povo brasileiro. Esses assuntos foram propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, que aconteceu há 50 anos e abriu a Igreja para o social, enfatizando a importância do amor a Deus e ao próximo. A campanha propõe ainda buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de levar a palavra a cada pessoa.

Em entrevista realizada pela Assessoria de Comunicação da Diocese de Montenegro, e publicada no Jornal Ibiá desta sexta-feira, o Bispo da Diocese de Montenegro, Dom Paulo De Conto falou sobre a Campanha da Fraternidade. Na oportunidade, ele frisou a importância de servir, o quão fundamental é o serviço do cristão junto à comunidade, amando a Deus e ao seu irmão. A seguir, acompanhe algumas das reflexões de Dom Paulo.

Quais os principais objetivos da Campanha deste ano?

Dom Paulo De Conto: Primeiramente, celebrava-se a Quaresma em uma intensidade de oração, penitência, de conversão do coração. Falava-se muito do jejum, da esmola. Em 1964, a Igreja do Brasil iniciou um belo trabalho evangelizador através da Campanha da Fraternidade, pela importância e pela necessidade de colocar em prática a caridade. Desde então, ano a ano, a Igreja, através de um tema social, procura evangelizar durante a Quaresma, a partir de um tema com ações concretas. Anualmente, temos a Quaresma e a Campanha da Fraternidade de mãos dadas, refletindo, anunciando e vivenciando uma realidade social. Em 2015, o tema “Fraternidade, Igreja e Sociedade” vem ao nosso encontro com o objetivo das pessoas poderem se comunicar, se abrir e socorrer a sociedade: seja na família, no trabalho, no lazer, e especialmente, nas grandes preocupações que cercam o homem no dia de hoje. Tanto que o tema tem um lema. A frase forte de Jesus, que deve estar em todos os corações: “Eu vim para servir”. Assim, o objetivo da Campanha da Fraternidade é o serviço.

Qual a importância do Concílio Vaticano II para a Igreja?

Dom Paulo De Conto: O Concílio Vaticano II aconteceu há 50 anos, reunindo todos os bispos do mundo. Hoje, procurando colocar em prática tudo aquilo que foi refletido, vemos o quanto ele é importante e o quanto sua aplicação faz um bem para a sociedade. Como Igreja, vivíamos um tanto fechados. Tinha-se uma visão transcendental da prática religiosa, quando então se refletiu e se abriu também para o horizontal. O Concílio presente na Igreja quer abraçar com mais intensidade o serviço, o amor: amor a Deus e amor ao próximo. A grandeza do Concilio é esta abertura para o social, dizendo que o homem por meio do batismo não está salvo, e sim se torna um salvador. Salva-se quem for salvador; salva-se quem intensifica o amor a Deus e coloca em prática o amor concreto junto do próximo, de cada um.

Que tipo de ações podem ser realizadas nas paróquias para colocar em prática o lema da Campanha?

Dom Paulo De Conto: Com o tema “Igreja e Sociedade”, vemos que o homem é um ser social. Ele não pode se fechar dentro de si. Homem é abertura, é comunicação, é relacionamento; homem é amor. Mais do que nunca, ele deve amar-se, amar a Deus, e amar ao próximo. Em nossas comunidades da Diocese, todos são chamados para o serviço. Primeiro, o serviço junto à família, que é uma sociedade. Todos se tornam sócios, todos são iguais. Daí o respeito, o amor, o carinho, a fé, e a necessidade de defender e propagar a família. A partir dela, surgem os gestos concretos junto aos que mais sofrem: presos, drogados, alcoólicos, desprezados, esquecidos. Quando Jesus diz “eu vim para servir”, esta expressão deve estar em todos os corações para que, um dia, quando Ele perguntar: “onde está teu irmão?”, possamos apresentar todos os irmãos queridos, porque foram servidos, ajudados e promovidos. 

Na sua opinião, como está, atualmente, a relação da Igreja com a sociedade? Quais as principais dificuldades enfrentadas?

Dom Paulo De Conto: Igreja são todos os homens. E todos devem sentir-se Igreja, como tão bem o Concílio Vaticano II definiu: Igreja é o povo de Deus. Não podemos confundir, pensando que Igreja é somente o Papa, os bispos e padres, que são escolhidos para ajudar, servir e animar o povo de Deus. Por isso, todos somos Igreja. Antes de refletir sobre a relação da Igreja com a sociedade, precisamos perguntar: quem é a sociedade? São todas as pessoas. Nos mais diversos serviços, todos procuram levar adiante a sociedade. Todos são chamados para servir. Batizados que somos, somos responsáveis pelo Brasil, pelo Estado, pelo município, no lugar onde trabalhamos e realizamos a vida. Como Igreja, sentimos também dificuldades pelo egoísmo, pela vaidade e pelo orgulho de muitos que não se deixam guiar por Jesus. Uma grande dificuldade é receber o batismo e não colocar em prática aquilo que se promete. Então, muitos são traidores por não seguirem Jesus Cristo. A dificuldade que eu percebo é esta: evangelizar incutindo os compromissos cristãos junto àqueles que se dizem não ser Igreja.

De que forma os jovens católicos podem atuar, nos dias de hoje, a fim de que sirvam a Jesus (tendo em vista o contexto em que estão inseridos: internet, redes sociais, etc.)?

Dom Paulo De Conto: O jovem, hoje, é levado a pensar e a agir rápido. E não é levado a refletir e a vivenciar a grandeza que é junto da família e da comunidade. A Igreja procura refletir com o jovem e dar meios de caminhar, primeiramente, na sua família, por meio dessa integração de amor junto com os pais e os irmãos. E, a partir da família, na prática da fé, leva-se à importância de ir ao encontro dos irmãos, especialmente os mais necessitados. Com tantos meios de comunicação, o jovem pouco reflete, pouco se preocupa, e pouco acontece transformação junto da sociedade. Queremos com a Campanha da Fraternidade que os jovens possam abrir mais os olhos e, sobretudo, o coração para ir ao encontro do próximo, colocando sua fé com obras concretas de amor. Que todos sintam os sofrimentos de muitos e possam libertar-se e libertar muitos jovens, integrando a todos na sociedade e na Igreja.

Manter a comunidade católica a serviço do povo é uma das maiores metas da igreja brasileira atualmente?

Dom Paulo De Conto: Sempre foi meta da Igreja levar o homem para o mandamento do amor. Mais do que nunca, no mundo consumista, individualista, distante dos relacionamentos, o esforço da Igreja é de unir o homem orante numa ação concreta de vida, no relacionamento entre irmãos. Nós queremos, como Igreja, viver na dimensão transcendental: olhar para o alto, sentir a presença de Deus, adorá-Lo, vivenciá-Lo e, através desta vivência, abrir os braços para ver e colocar em prática o transcendental no horizontal, levando Deus-amor a todas as pessoas.

Qual o objetivo de lançar as Campanhas da Fraternidade durante o período quaresmal?

Dom Paulo De Conto: A Quaresma prega a conversão do homem na oração, no jejum, na esmola, durante 40 dias, preparando-se para a Páscoa. É o período próprio para o homem abrir-se para o próximo. E a Campanha da Fraternidade, neste período, desenvolve um tema concreto e torna-se o grande momento de evangelização. Ela é própria do Brasil é a maior campanha do mundo. Atinge todos os brasileiros, com o objetivo de levar a todos a conversão para o social, acontecendo também o gesto concreto da coleta que resulta da penitência das pessoas, colocando em comum para as necessidades dos que estão sofrendo. Neste ano, entre outros objetivos, a coleta visa ajudar o povo do Haiti, uma nação muito pobre onde, desde o terremoto de 2010, muitos continuam sem comida. No Brasil, queremos que todos, através da Campanha, façam sacrifícios e penitências para ajudar os que nada têm. Como seria grandioso, em momentos da Quaresma e da Campanha da Fraternidade, fazer jejum, deixar de se alimentar em certos momentos e, com o resultado da economia, ajudar os que têm fome. Pobre não é lata de lixo que só se dá o que está sobrando. Pobre merece o amor e o amor pode ser num jejum, numa penitência indo ao encontro dos que clamam pelo pão nosso de cada dia.