Quem ama não vive só!

                                                    

Despedidas causam tristeza. Ainda mais quando nos despedimos de quem amamos. A pessoa que fica, espera o retorno breve daquela que se despede. A espera é sofrida, aperta o coração. O amor não quer separação, o amor quer presença, união.

Chama a atenção que, na Ascensão do Senhor, solenidade que celebramos neste domingo, 12 de maio, Lucas (24,46-53) narra a despedida de Jesus, que volta para o Pai. A reação dos discípulos de Jesus é voltar para Jerusalém com grande alegria. Como isso é possível? Jesus volta para o Pai e eles, na sua ausência, se alegram? Será que não o amavam?

Nunca podemos ler o Evangelho sem o conjunto de toda a Escritura. Em João, Jesus nos diz: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada.” (Jo 14,23).

Ascensão não é uma separação. A Ascensão abre a possibilidade de um novo modo de presença do Senhor. Cristo veio a nós, pelo seu nascimento de Maria. É-nos anunciada uma vinda futura sua, no fim dos tempos, para julgar vivos e mortos, como professamos no Creio. Se houvessem só essas vindas de Cristo, os discípulos (e nós também) teriam voltado tristes para casa. Mas Jesus promete uma vinda, uma presença intermediária: quem o ama torna-se morada sua. E isso só é possível porque ao voltar para o Pai ele não está mais preso ao espaço, como nós estamos. Agora Jesus pode estar presente em todos os lugares onde houver pessoas que o amam.

Esse é o segredo da alegria dos discípulos: quem ama não vive só. Quem ama é templo de Deus. Quem ama é feliz, desfruta de uma realização que ninguém pode tirar.

Cabem-nos duas atitudes: amar a Cristo e testemunhá-lo com nossa vida. Essa é a essência da vida do cristão.

Ao partir, Jesus abençoa. Ergue as mãos enquanto sobe aos céus. Imaginemos esta bela cena. Que ela significa? Bento XVI diz: “Jesus parte, abençoando. Abençoando, parte; e, na bênção, Ele permanece. As suas mãos continuam estendidas sobre este mundo. As mãos abençoadoras de Cristo são como um teto que nos protege; mas ao mesmo tempo são um gesto de abertura que fende o mundo para que o Céu penetre nele e possa afirmar nele a sua presença. No gesto das mãos abençoadoras exprime-se a relação duradoura de Jesus com seus discípulos, com o mundo. Enquanto parte, Ele vem levantar-nos acima de nós mesmos e abrir o mundo a Deus. Por isso os discípulos puderam transbordar de alegria quando voltaram de Betânia para casa. Na fé, sabemos que Jesus, abençoando, tem as suas mãos estendidas sobre nós. Tal é a razão permanente da alegria cristã”. (Jesus de Nazaré, da entrada em Jerusalém até a Ressurreição, página 261).

Pe. Eduardo Luis Haas