Uso indiscriminado de desinfetantes poderia criar ''superbactérias''
Usar desinfetantes faz com que um tipo de bactéria fique resistente a um antibiótico e ao próprio desinfetante, diz um estudo publicado na edição de janeiro da publicação científica Microbiology.
As revelações podem ter implicações importantes sobre a forma como é feito o combate das infecções hospitalares.
Os pesquisadores, da Universidade Nacional da Irlanda, em Galway, descobriram que quando se adiciona quantidades crescentes de desinfetantes a culturas da bactéria Pseudomonas aeruginosa, a bactéria gradualmente desenvolve a capacidade de se adaptar para sobreviver não apenas ao desinfetante, mas também ao antibiótico ciprofloxacina - mesmo sem ter sido exposta a ele.
O experimento demonstrou que as bactérias desenvolveram mecanismos que lhes permitiram expelir agentes como desinfetantes e antibióticos de si mesmas.
A bactéria adaptada também apresentou uma mutação no seu DNA que lhe permitiu resistir especificamente aos antibióticos do tipo ciprofloxacina.
Preocupação
A Pseudomonas aeruginosa é a bactéria que mais provavelmente infectará pessoas que já estão seriamente doentes.
Ela ataca particularmente aqueles com sistemas imunológicos debilitados, como portadores do vírus HIV, pacientes com câncer, diabéticos, pacientes com fibrose cística ou pessoas que sofreram queimaduras graves.
Para prevenir seu alastramento, as superfícies dos hospitais são tratadas com desinfetantes, mas se a bactéria consegue sobreviver e infecta pacientes, eles são tratados com antibióticos.
Bactérias capazes de sobreviver a ambos os desinfetantes e os antibióticos podem ser uma ameaça séria a pacientes de hospitais, alertou o estudo.
Nas altas concentrações em que os detergentes são normalmente aplicados, o surgimento dessas superbactérias é pouco provável, disse o autor do estudo, Gerard Fleming.
Mas "em princípio, resíduos de desinfetantes diluídos incorretamente e deixados nas superfícies em hospitais poderiam promover o crescimento de bactérias resistentes a antibióticos", disse Fleming.
"O que é mais preocupante é que a bactéria parece ser capaz de se adaptar para resistir a antibióticos mesmo sem ter sido exposta a eles".
Um número cada vez maior de estudos vem chamando a atenção para a relação entre o uso de desinfetantes e antissépticos e a resistência a antibióticos.
Uma pesquisa publicada neste ano mostrou que lenços umedecidos com desinfetantes usados para proteger pacientes contra a bactéria MRSA podem na verdade ajudar no alastramento do micróbio, porque a solução contida nos lenços é frequentemente insuficiente para matar todas as bactérias.
Além disso, funcionários de hospitais com frequência usam o mesmo lenço para limpar mais de uma superfície.
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