Fabrícia Peixoto
Enviada especial da BBC Brasil a Porto Príncipe
No orfanato de Blessing Hands nenhuma criança foi adotada em cinco anos
A adoção de crianças do Haiti, que passou a atrair o interesse ainda maior de estrangeiros depois do terremoto no país, esbarra na burocracia e na corrupção do governo local, segundo relatos ouvidos pela BBC Brasil em orfanatos de Porto Príncipe.
Um assistente social que preferiu permanecer no anonimato conta que o processo de adoção "é tão longo que chega a ser proibitivo" e que os pretendentes dispostos a "apressar" o trâmite chegam a desembolsar até US$ 12 mil em propinas.
"Você é achacado em todas as instâncias, desde o início do processo, com o pedido, até na fronteira para sair do país com a criança", conta.
No orfanato de Blessing Hands nenhuma criança foi adotada nos últimos cinco anos, segundo a coordenadora da casa, Suzanne Sanon.
"Nunca vi uma criança ser adotada aqui, por isso nem posso comentar como funciona ou como é essa experiência", diz.
O conceito legal de adoção é difícil de ser compreendido, sobretudo nos orfanatos improvisados, que são os mais comuns no Haiti.
Questionado pela BBC Brasil sobre o processo de adoção de uma das crianças por pais brasileiros, o responsável por uma dessas casas disse "não ver problemas", mas acrescentou que "teria de ir junto com a criança".
O resultado são orfanatos cada vez mais inchados e sem perspectivas de que as crianças possam ter uma nova família, seja no Haiti ou no exterior.
Escombros
Se a burocracia já era um complicador na adoção, com o terremoto milhares de processos que já estavam em andamento estão provavelmente perdidos debaixo de escombros.
Nunca vi uma criança ser adotada aqui, por isso nem posso comentar como funciona ou como é essa experiência.
Suzanne Sanon, coordenadora do orfanato Blessing Hands
O embaixador do Brasil no Haiti, Igor Kipman, disse a que pretende conversar com o governo haitiano sobre a possibilidade de que o processo para adoção de crianças por pais brasileiros seja "facilitado".
Segundo ele, esse é o tipo de questão que não pode ficar pendente "por dois ou três anos". Na embaixada do Haiti em Brasília, os mais de 300 pretendentes foram aconselhados a enviar um e-mail confirmando o interesse, mas ainda não tiveram qualquer retorno.
Como alternativa ao processo tradicional de adoção, os governos dos Estados Unidos e da França estão discutindo com o governo do Haiti um modelo intermediário, com a possibilidade de que os órfãos vivam pelo menos "alguns anos" no exterior, como forma de minimizar os traumas da tragédia.
Contabilidade
O país, que antes do terremoto já tinha cerca de 380 mil órfãos, de acordo organismos internacionais, ainda aguarda a contabilidade do desastre para saber quantos outros perderam seus pais.
Enquanto números oficiais não chegam, orfanatos e casas sociais se preparam para duplicar suas já precárias estruturas à espera dos novos pequenos moradores.
No orfanato improvisado por Anatalie Aladin, de 32 anos, não há espaço para mais crianças, mas ainda assim elas não param de chegar.
"Não vamos nunca dizer não", conta.
Fpnte: BBC Brasil.com
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