Traficantes vetam crack em Santa Cruz
Criminosos anunciaram decisão em reunião com moradores de bairro
A quadrilha que domina a venda de drogas no bairro mais populoso de Santa Cruz do Sul decretou: não vai vender mais crack. Além disso, anunciou “represálias severas” a quem comercializar a droga na sua área de atuação.
O recado foi repassado à associação de moradores do bairro Bom Jesus e confirmado por repórteres do jornal Gazeta do Sul, que entrevistaram um dos traficantes. Gerente de boca de fumo, o criminoso justificou o corte na venda à necessidade de acabar com a onda de furtos e assaltos decorrente do consumo do crack. Os roubos desencadeiam repressão por parte da polícia, o que não agrada aos patrões do tráfico.
O mais curioso é que os traficantes fizeram o anúncio durante reunião com cem moradores do bairro – a comunidade havia se engajado numa cruzada contra o crack. Os delinquentes deram o prazo de 10 de dezembro para que cesse a venda da droga no lugar. Até lá, venderão os estoques. Depois, vai vigorar a pena do submundo contra quem violar a regra – o que pode incluir morte. Os integrantes da associação de moradores relataram aos traficantes que até crianças de nove anos estão consumindo a pedra e furtando para sustentar o vício.
Nem tudo é boa notícia. Os traficantes reafirmaram que vão continuar vendendo cocaína e maconha. O presidente da associação de moradores do bairro, Clairton Ferreira, confirmou a que os traficantes souberam da reunião comunitária e foram ao encontro para anunciar o veto ao crack:
– A gente vinha ajudando mães, tentando internações. Vimos como algo positivo essa posição deles.
A decisão surpreendeu as autoridades. Ao confirmar que a reunião dos traficantes com os moradores ocorreu de fato, o titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas da Polícia Civil (Defrec) de Santa Cruz do Sul, delegado Luciano Menezes, já mandou investigar o episódio. Ele acredita que, apesar de vir de um “poder paralelo”, a iniciativa de parar com a venda de crack é positiva para a comunidade.
– Espero que isso se estenda a toda a cidade. É claro que continuaremos prendendo traficantes, mas não podemos nos iludir: a venda de drogas continuará. Melhor se não venderem crack, porque a maior parte dos roubos e até alguns homicídios são cometidos por viciados na pedra – disse Menezes.
A mudança de comportamento dos traficantes, com progressivo abandono do crack como mercadoria, foi tema de reportagem de ZH publicada no domingo.
FONTE: Humberto Trezzi | humberto.trezzi@zerohora.com.br
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