CARTA AO BANCO POR DELIO ROLOFF

Segue divulgação de conteúdo:

*Senhores Diretores do ,*
Gostaria de saber se os senhores aceitariam pagar uma taxa, uma pequena
taxa mensal, pela existência da padaria na esquina de sua rua, ou pela
existência do posto de gasolina ou da farmácia ou da feira, ou de qualquer
outro desses serviços indispensáveis ao nosso dia-a-dia.
Funcionaria assim: todo mês os senhores, e todos os usuários, pagariam uma
pequena taxa para a manutenção dos serviços (padaria, feira, mecânico,
costureira, farmácia etc.). Uma taxa que não garantiria nenhum direito
extraordinário ao pagante.
Existente apenas para enriquecer os proprietários sob a alegação de que
serviria para manter um serviço de alta qualidade.
Por qualquer produto adquirido (um pãozinho, um remédio, uns litros de
combustível etc.) o usuário pagaria os preços de mercado ou, dependendo do
produto, até um pouquinho acima. Que tal?
Pois, ontem saí de seu Banco com a certeza que os senhores concordariam com
tais taxas. Por uma questão de equidade e de honestidade.
Minha certeza deriva de um raciocínio simples. Vamos imaginar a seguinte
cena: eu vou à padaria para comprar um pãozinho. O padeiro me atende muito
gentilmente. Vende o pãozinho. Cobra o embrulhar do pão, assim como, todo e
qualquer serviço.
Além disso, me impõe taxas. Uma 'taxa de acesso ao pãozinho', outra 'taxa
por guardar pão quentinho' e ainda uma 'taxa de abertura da padaria'. Tudo
com muita cordialidade e muito profissionalismo, claro.
Fazendo uma comparação que talvez os padeiros não concordem, foi o que
ocorreu comigo em seu Banco.
Financiei um carro. Ou seja, comprei um produto de seu negócio. Os senhores
me cobraram preços de mercado. Assim como o padeiro me cobra o preço de
mercado pelo pãozinho.
Entretanto, diferentemente do padeiro, os senhores não se satisfazem me
cobrando apenas pelo produto que adquiri.
Para ter acesso ao produto de seu negócio, os senhores me cobraram uma 'taxa
de abertura de crédito'
-equivalente àquela hipotética 'taxa de acesso ao pãozinho', que os
senhores certamente achariam um absurdo e se negariam a pagar.
Não satisfeitos, para ter acesso ao pãozinho, digo, ao financiamento, fui
obrigado a abrir uma conta corrente em seu Banco.
Para que isso fosse possível, os senhores me cobraram uma 'taxa de abertura
de conta'.
Como só é possível fazer negócios com os senhores depois de abrir uma conta,
essa 'taxa de abertura de conta' se assemelharia a uma 'taxa de abertura da
padaria', pois, só é possível fazer negócios com o padeiro
depois de abrir a padaria.
Antigamente, os empréstimos bancários eram popularmente conhecidos como
papagaios'. para liberar o 'papagaio', alguns gerentes inescrupulosos
cobravam um 'por fora', que era devidamente embolsado. Fiquei com a
impressão que o Banco resolveu se antecipar aos gerentes inescrupulosos.
Agora ao invés de um 'por fora' temos muitos 'por dentro'.
- Tirei um extrato de minha conta - um único extrato no mês - os senhores
me cobraram uma taxa de R$ 5,00.
- Olhando o extrato, descobri uma outra taxa de R$ 7,90 'para a manutenção
da conta' semelhante àquela 'taxa pela existência da padaria na esquina da
rua'.
- A surpresa não acabou: descobri outra taxa de R$ 22,00 a cada trimestre -
uma taxa para manter um limite especial que não me dá nenhum direito. Se eu
utilizar o limite especial vou pagar os juros (preços) mais altos do mundo.
- Semelhante àquela 'taxa por guardar o pão quentinho'.
- Mas, os senhores são insaciáveis. A gentil funcionária que me atendeu, me
entregou um caderninho onde sou informado que me cobrarão taxas por toda e
qualquer movimentação que eu fizer.
Cordialmente, retribuindo tanta gentileza, gostaria de alertar que os
senhores esqueceram de me cobrar o ar que respirei enquanto estive nas
instalações de seu Banco.
Por favor, me esclareçam uma dúvida: até agora não sei se comprei um
financiamento ou se vendi a alma?
Depois que eu pagar as taxas correspondentes, talvez os senhores me
respondam informando, muito cordial e profissionalmente, que um serviço
bancário é muito diferente de uma padaria. Que sua responsabilidade é
muito grande, que existem inúmeras exigências governamentais, que os riscos
do negócio são muito elevados etc. e tal. E, ademais, tudo o que estão
cobrando está devidamente coberto por lei, regulamentado e
autorizado pelo Banco Central.
Sei disso.
Como sei, também, que existem seguros e garantias legais que protegem seu
negócio de todo e qualquer risco.
Presumo que os riscos de uma padaria, que não conta com o poder de
influência dos senhores, talvez sejam muito mais elevados.
Sei que são legais. Mas, também sei que são imorais. Por mais que estejam
garantidas em lei, vocês concordam o quanto abusiva.!?!



Autor:
Délio Roloff
Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
Procuradoria
Legislação Educacional
Fone: (51)35908205
Ramal 1042
E-mail: delio@unisinos.br

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