Gravações de ex-assessor reabrem crise no Piratini
Reportagem de Veja diz ter ouvido uma hora e meia das dez horas de diálogos mantidos entre Cavalcante e o lobista Lair Ferst
Nos primeiros minutos da madrugada de sábado, se confirmou um temor que ronda o governo Yeda Crusius nos últimos dois meses: a revista Veja confirmou a existência de gravações em que o ex-assessor Marcelo Cavalcante, encontrado morto em 17 fevereiro, em Brasília, relata irregularidades na campanha e na gestão da tucana.
A reportagem diz ter ouvido uma hora e meia das dez horas de diálogos mantidos entre Cavalcante e o lobista Lair Ferst, um dos pivôs do escândalo milionário do Detran. Ambos participaram da campanha da governadora em 2006. Os áudios, segundo a revista, trazem três casos com indícios de suposta corrupção. Em entrevista à revista, a empresária Magda Koenigkan, que foi companheira de Cavalcante, confirmou a autenticidade do material, que teria sido gravado por Lair. A reportagem, sob o título O caixa dois do caixa dois, diz que "gravações e um depoimento da empresária Magda Koenigkan lançam uma nova sombra sobre o governo Yeda".
Há dois meses, a reportagem era esperada pelo próprio governo, mas a tensão chegou ao nível máximo no início da tarde de sexta-feira, quando o correspondente de Veja em Porto Alegre comunicou ao Piratini a divulgação do material. Após conversar com o jornalista, Yeda foi a Chapecó, onde discursou em ato de apoio ao Código Florestal de Santa Catarina, ao lado do governador Luiz Henrique. À revista, Yeda disse duvidar da autenticidade das fitas.
Magda afirmou à revista que as gravações são conversas de "barzinho" entre Cavalcante e Lair. De acordo com Cavalcante, Yeda teria recebido dinheiro do caixa 2 depois do pleito. O ex-assessor conta que, após o segundo turno, ele próprio coletou dinheiro em duas empresas fabricantes de cigarros: R$ 200 mil da Alliance One e R$ 200 mil da CTA-Continental. O ex-assessor diz que entregou os recursos a Carlos Crusius, então marido da governadora. Procurados por Veja, os executivos das empresa negaram envolvimento com caixa 2.
Empresária levanta dúvidas sobre valor da casa
Segundo a entrevista de Magda à revista, os R$ 400 mil teriam sido usados num pagamento da casa de Yeda "por baixo do pano". A declaração reabre mais uma ferida no governo, pois Yeda já dava o caso da casa como encerrado desde que recebeu um atestado de legalidade do negócio dado por duas instituições: o Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas do Estado. Yeda sempre disse que a casa custou R$ 750 mil, mas a oposição levanta suspeitas em relação ao valor. Magda diz que o imóvel teria custado "cerca de R$ 1 milhão".
Em outro trecho das fitas, Cavalcante afirma que despesas do comitê eleitoral teriam sido custeadas pela agência de publicidade DCS, que não prestava serviços à campanha nem fez doações oficiais. Segundo o ex-assessor, a DCS pagou suas passagens aéreas e diárias no flat Swan Molinos, em Porto Alegre. Após a eleição, a agência teria arcado com recepções oferecidas por Yeda em sua casa.
O vice-presidente da agência, Roberto Callage, disse na manhã de sábado que a DCS tem uma relação profissional com o governo, garantida por uma licitação e um contrato. O empresário afirmou desconhecer Cavalcante e negou ter pago qualquer despesa dele. Gabriela Swan, diretora da operações da rede Swan, confirmou na manhã de sábado que o ex-assessor se hospedava no flat, mas disse não ter dados à disposição sobre a forma de pagamento.
Fitas comprovariam entrega de carta de Lair Ferst
As gravações também se referem a outro episódio polêmico: uma carta de Lair à governadora, publicada por Zero Hora em junho de 2008. No documento, Lair descrevia o modo como os recursos eram desviados do Detran. Lair estava descontente com o comportamento dos outros integrantes do esquema, que o haviam afastado dos trabalhos no órgão. Quando o tema veio à tona, em meio à CPI do Detran, Cavalcante disse não ter encaminhado a denúncia de Lair para Yeda. No áudio obtido pela revista, porém, o ex-assessor afirma ter avisado Yeda sobre o esquema no Detran e conta ter entregado a ela a carta de Lair.
Magda, segundo a revista, assegurou a autenticidade dos áudios. A mulher disse ter ouvido as gravações e que o ex-companheiro reconhecia o conteúdo. O ex-assessor teria lhe relatado os mesmos fatos.
Magda teria demorado para confirmar o material por medo de perder o apoio financeiro para sua revista, a Sras&Srs, por parte de governos aliados de Yeda (PSDB). À Veja, Magda disse que Cavalcante soube em novembro do ano passado da existência dos áudios que teriam sido gravados por Lair.
Em janeiro deste ano, o ex-assessor, segundo Magda, teria aceitado confirmar o conteúdo das gravações aos procuradores federais que apuram o episódio, mas morreu antes da audiência. Magda viveu com Cavalcante por 15 meses, a partir do fim de 2007. Desde a morte do ex-companheiro, já deu declarações e depois tentou desmenti-las. À Zero Hora, em reportagem publicada em 19 de fevereiro, a empresária revelou que o ex-assessor tinha aceito depor ao Ministério Público Federal, mas andava nervoso. Depois da publicação, Magda passou a afirmar que havia dado a entrevista sob forte emoção e que deveria ser desconsiderada.
Comentários