TSUNAMI SOLAR E AS TELECOMUNICAÇÕES


Erupções solares põem em risco astronautas e a Terra

Os tsunamis solares, fortes erupções de massa coronal (CME, na sigla em inglês) emanadas pelo Sol, podem representar um perigo fatal aos astronautas, naves e telescópios em missões no espaço sideral, além de interferir em sistemas de telecomunicação e de posicionamento via satélite na Terra, afirmou o coordenador do Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica (CRAMM) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. A massa coronal - enorme quantidade de massa composta por partículas de elétrons - está sendo estudada pelas sondas espaciais gêmeas Stereo, da Nasa, agência espacial americana.

O físico Pierre Kaufmann é especialista no assunto e foi contratado pelo escritório de ciência da Força Aérea dos Estados Unidos para estudar a previsibilidade das ejeções de CME após o projeto da universidade ser aprovado em uma seleção internacional. As erupções se manifestam por meio da grande aceleração das partículas de elétrons que são lançadas ao espaço.

Para Kaufmann, o risco dos astronautas e equipamentos espaciais serem atingidos é "extremamente sério". "Algumas missões são até mesmo abortadas e os astronautas têm que retornar imediatamente à Terra", explicou. Este risco, conforme o coordenador, causa polêmica quando a comunidade científica internacional fala em uma viagem tripulada de longo prazo até Marte. "Ainda não temos como prever se as erupções ocorrerão antes ou depois da chegada dos astronautas", avaliou.

Os tsunamis solares também causam um forte impacto na Terra e podem perturbar o planeta de diversas maneiras, danificando permanentemente a eletrônica de satélites artificiais, atingindo a ionosfera (camada da alta atmosfera) e, por consequência, afetando as telecomunicações e a coleta de dados dos satélites, incapacitando GPSs de geolocalização, desligando parte das vias de transmissão de energia elétrica, prejudicando a produção de cargas eletroestáticas nos dutos de gás e óleo e avariando até mesmo os nossos pequenos aparelhos celulares.

No entanto, os efeitos não são sentidos apenas pela tecnologia. De acordo com Pierre Kaufmann, a energia liberada pelo Sol pode ainda provocar um impacto de longo prazo no regime climático da superfície terrestre. "Em períodos de alta atividade solar, notamos que existem menos nuvens no céu e um processo contrário nas fases de menor atividade", constatou.

As explosões solares - detonações relativamente rápidas geradas nas manchas presentes no disco solar - que, segundo destacou Kaufmann, é um processo físico diferente das erupções, são mais potentes do que mais de 10 milhões de bombas atômicas juntas.

Para se ter uma idéia do poder do tsunami solar, sua produção é muito mais freqüente e possui conteúdo de potência muito maior que o das explosões. Embora haja a diferença enorme de força, os dois tipos de ejeções de massa são relativamente lentos, levando entre 2 a 3 dias para alcançar a Terra.

Sem saída
As expectativas não são nada positivas para os seres humanos em relação ao que pode ser feito para evitar os prejuízos na Terra. "Nada pode ser feito em curto prazo. Estamos condenados a esta exposição às energias liberadas pelo Sol" afirmou Pierre Kaufmann. Para ele, "ainda estamos longe de prever com exatidão a ocorrência dos tsunamis". A saída, conforme o professor, é tentar prevenir os efeitos de alguma maneira que ainda não foi encontrada.

Nasa confiante na prevenção
Cientistas da Nasa anunciaram esta semana que os novos dados fornecidos pelas sondas espaciais gêmeas Stereo - lançadas em outubro de 2006 - podem ajudá-los futuramente a prever a ocorrência do fenômeno solar. Uma missão já em andamento também está analisando as erupções de massa coronal. A iniciativa tem o objetivo de avaliar o comportamento do Sol e criar mecanismos para prevenir os efeitos.

Os pesquisadores conseguiram mapear em 3D a movimentação dos maremotos de energia, a partir de imagens captadas pelos telescópios, para analisar suas estruturas, velocidades, direções e massas. De acordo com o físico solar Angelos Vourlidas, do Laboratório de Pesquisa Naval de Washington, as novas informações captadas pelos telescópios gêmeos vão revolucionar a pesquisa sobre o padrão climático cósmico.

"Antes desta missão, as medições e dados de CME só eram observados quando as emanações chegavam à Terra entre três e sete dias mais tarde", disse o especialista. Segundo o físico, "agora podemos ver os potentes raios no momento em que deixam a superfície do Sol até a chegada à Terra".
FONTE: Terra.com.br