CARRO USADO


Em dezembro do ano passado, o governo reduziu em 7% o imposto sobre produtos industrializados (IPI), que onera os automóveis novos, o que estimulou o seu consumo. Como consequência disso, usados e seminovos se acumularam nas concessionárias – e perderam valor.

Hoje, esses carros estão 20% mais baratos, em média, do que cinco meses atrás. Isso significa que comprá-los voltou a ser um negócio atraente, que até mesmo os apaixonados pelo proverbial "cheirinho de carro novo" deveriam estudar. "O consumidor tem mais poder de barganha na compra de um seminovo do que na de um zero", diz George Chahade, da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores de São Paulo. Uma ponderação adicional: nos últimos anos, a distância tecnológica entre o novo e o usado estreitou-se. Peças e acessórios têm vida útil mais longa, e um motor com 60 000 quilômetros rodados ainda pode ser considerado novo. Tendo em vista essas novas condições do mercado, VEJA ouviu especialistas e preparou um roteiro do que é preciso ter em mente antes de comprar (ou vender) um carro usado.

PARA QUEM QUER COMPRAR

Circunstância: você está na dúvida entre um carro zero-quilômetro e um seminovo.
Dica: o seminovo, neste momento, é muito mais negócio. Como as montadoras oferecem promoções e descontos para desovar estoques, o preço dos usados caiu bem mais do que o dos novos. E comprar um seminovo significa evitar os gastos extras que vêm com um zero, como o emplacamento e o IPVA. Dê preferência aos carros com até três anos de uso, prazo em que boa parte deles ainda tem a garantia de fábrica.

Circunstância: você precisa reduzir ao máximo os custos com a compra do novo carro.
Dica: como o momento é favorável a quem compra, barganhe à vontade: peça descontos significativos, negocie prazo maior de garantia e também a transferência de documentos. Ronaldo Samadello, 29 anos, analista de sistemas, foi a um feirão de fábrica disposto a comprar um zero. Saiu de lá com um Ford Fiesta Sedan 2007 com 33 000 quilômetros rodados. Negociou descontos, e o carro novo saiu por 3 000 reais abaixo da tabela. Além disso, conseguiu garantia de três meses e transferência grátis. "Foi um bom negócio. Investi pouco e levei um modelo mais completo, com acessórios que o zero não teria", diz.


Lailson Santos
SEMINOVO NO LUGAR DO ZERO
"Fiz a opção por um modelo melhor com um investimento menor", diz Ronaldo Samadello

Circunstância: você pretende ficar pouco tempo com o carro que vai comprar.
Dica: se você precisa imediatamente de um carro e pretende vendê-lo em pouco tempo, daqui a seis meses, por exemplo, vale mais a pena pegar um modelo de giro alto, ou seja, um daqueles que são líderes de venda. Modelos compactos e hatch têm saída mais rápida nas lojas e, portanto, desvalorizam-se menos. Já os importados e os carros que saíram de linha são os campeões da desvalorização. Se for um carro importado raro, e ainda por cima amarelo, a tendência é que, na hora de vendê-lo, seu preço esteja lá embaixo.

Circunstância: na concessionária o carro é mais caro, mas você teme comprar de um particular.
Dica: as compras mais seguras são feitas na concessionária ou nos feirões de fábrica, que normalmente oferecem carros menos rodados, com revisão e garantia. Como as concessionárias precisam vender muitos seminovos, já que o lucro delas com os carros zero é pequeno, dá para negociar bastante o valor. Comprar de particular tem a vantagem do preço melhor: não há o lucro do lojista embutido – mas também nenhuma garantia mecânica nem de procedência. Se o carro apresentar algum defeito tempos depois, não haverá nada a fazer. Neste caso é sempre recomendável levá-lo a um mecânico, especialmente se o carro tiver mais de 40 000 quilômetros rodados ou mais de três anos de uso.

Circunstância: os sites de compra e venda de carros têm boas ofertas, mas você não confia nos preços.
Dica: sites como WebMotors, Carsale e iCarros são boa opção para comparar muitas ofertas de um mesmo modelo no conforto de casa ou do escritório. Os lojistas também se utilizam desses sites para ofertar seus estoques. Mas não se esqueça de que os vendedores publicam ali não o valor real do carro, mas quanto gostariam de ganhar. Como o momento é bom para negociar, insista no preço que você considera justo e razoável. E, já que a maioria dos sites mostra quando o anúncio foi atualizado, é possível ter uma boa ideia do tempo em que o carro está parado e por quanto é possível negociá-lo. A análise ao vivo é indispensável.



PARA QUEM QUER VENDER

Circunstância: seu carro se desvalorizou muito e você não quer perder dinheiro na troca por um mais novo.
Dica: será impossível vender o seu a preço de tabela e comprar outro com valor 30% abaixo dela. Portanto, concentre-se na diferença de preço entre o carro que você tem e o que quer para fechar o negócio. O melhor é pesquisar muito e tentar fazer um negócio casado, ou seja, deixar um e pegar outro. Cuidado com a conversa do vendedor – ele sempre dirá que o seu carro é de uma cor difícil de vender, que existe uma versão melhor, que o final da placa não ajuda... E, por outro lado, dirá também que o modelo que você quer comprar é riquíssimo em acessórios e disputado no mercado. Ignore-o. Estabeleça um valor de diferença máximo a pagar e insista nele.

Circunstância: a concessionária paga muito pouco pelo seu usado.
Dica: o valor que será oferecido por qualquer lojista pelo seu carro sempre será abaixo do que você esperava. Por isso, pesquise em várias lojas e faça uma média dos valores ofertados para ter uma ideia de quanto, de fato, pode conseguir por ele. Existe a possibilidade de alcançar um preço melhor vendendo-o a um particular.. Anunciar em jornais, sites ou ir a feiras de automóveis é uma opção, mas lembre-se de que há um custo para isso e que o retorno não é garantido.

Circunstância: seu carro tem pequenos reparos a ser feitos. Vale a pena o investimento antes da venda?
Dica: faça as contas de quanto custa o conserto e quanto você conseguiria a mais no preço. Se o valor ao menos empatar, já vale a pena. Isso pode acelerar a venda. Lembre-se de que há excesso de oferta no mercado e um carro em mau estado ou não despertará o interesse dos compradores ou será ainda mais desvalorizado. Uma visita à oficina deixará o carro com aparência e mecânica novas, o que ajuda a fechar o negócio.



Compra sem surpresas

As seis regrinhas básicas para comprar
um carro usado – sem a ajuda do mecânico

1 Peça o manual e verifique a realização das revisões programadas. Carro com a última revisão feita próxima à quilometragem atual é sinal de veículo bem cuidado. Compare a diferença entre as revisões: se no manual a última foi aos 30 000 quilômetros e o carro está com 100 000 quilômetros rodados, esse é um indício de que depois do término da garantia a manutenção foi deixada de lado

2 Se o veículo não tiver manual, pergunte ao vendedor se ele passou por revisão antes de ser posto à venda. Questione quais itens foram revisados e quais peças foram trocadas. Exija a nota fiscal do serviço – o que comprovará se os itens foram de fato trocados

3 Desconfie de veículos com quilometragem baixa. Se o carro estiver com 30 000, 40 000 ou até 50 000 quilômetros mas apresentar desgaste acentuado nos bancos, nos pedais e na alavanca do câmbio, isso pode ser indício de adulteração da quilometragem

4 Sempre dirija o carro antes de fechar negócio. Procure dirigi-lo em várias condições e avalie o veículo, ainda que sem nenhum conhecimento técnico. Preste atenção em barulhos estranhos no motor e na suspensão. Rodas amassadas ou pneus de marcas diferentes denunciam mau uso. Verifique faróis e lanternas, fumaça em excesso e ligue e desligue o carro algumas vezes. Ele morre, tem dificuldade para pegar, apresenta ruídos estranhos? Procure outro

5 Certifique-se de que todos os documentos estão em ordem. Verifique se o número do chassi bate com o impresso no documento e se a placa traseira está com o lacre. Consulte o número do Renavam na internet para saber se há multas ou restrições e pendências legais

6 Se estiver em dúvida entre modelos diferentes, consulte o preço do seguro de cada um deles antes de fechar negócio. O valor do seguro pode variar muito de um carro para outro, ainda que eles sejam da mesma categoria, como compacto ou luxo, por exemplo

A opinião de quem entende do negócio

No momento da compra de um carro usado, ouvir o que diz um mecânico de sua confiança é fundamental. Todos os anos, uma pesquisa revela os modelos que eles mais recomendam. Os critérios, aqui, são qualidade e resistência dos materiais, facilidade de encontrar peças de reposição e propensão a apresentar defeitos. Eis os carros mais recomendados por 1 200 mecânicos de todo o país:

Especialistas consultados: José Palácio, do Instituto da Qualidade Automotiva, e George Assad Chahade, da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Estado

FONTE: abril.com.br