GAÚCHO GAY


Tradicionalistas criticam influência gay nos CTGs
Artigo de comerciante gaúcho gerou discussão sobre participação de homossexuais em danças gaudérias

Está se multiplicando nos meios gauchescos, mais do que fofoca em boca de comadre, um artigo alertando contra o que chamam de "avanço assustador do homossexualismo", inclusive nos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs).

O texto, publicado no dia 6 pelo tradicionalista Ademir Canabarro no site www.coxixogaucho.com.br, é polêmica em estado puro com as ONGs que defendem os direitos dos homossexuais. O autor, um comerciante gaúcho radicado em Santa Catarina, diz que a liberdade de escolha sexual "invadiu" o tradicionalismo.

Apesar de se afirmar favorável à livre expressão da sexualidade, Canabarro critica muitos peões que dançam nos CTGs como se "disputando com a prenda doçura e meiguice", a tal ponto que parecem "duas prendas dançando".

— Os peões mais delicados, por assim dizer, não devem se esquecer que neste momento estão interpretando um homem heterossexual que prefere mulher — argumenta Canabarro.

Nascido em Santo Ângelo (RS), o "cataúcho" Canabarro vive há 22 anos em Navegantes (SC) e ressalta que não é porta-voz do MTG, sequer ligado ao movimento, "apenas um tradicionalista". Ele acredita que o "jeito de ser gaúcho" só sobrevive porque os CTGs criaram regras, ao ponto de o MTG ser "o maior movimento cultural regional do mundo".

— O que não pode é descaracterizar. Tempos atrás, um CTG de Brasília sediou um baile gay. O patrão argumentou, depois, que alugou o prédio sem saber. Até pode ser, mas tinha cartaz na cidade toda avisando. Ora, aquilo é lugar para tradição gaúcha, não para cultura homossexual — diz Canabarro.

Ele não teme ser taxado de preconceituoso, até porque não está isolado em sua opinião. O artigo que ele escreveu tem sido reproduzido em correntes de e-mails Brasil afora e em outros sites. Na maioria das vezes, de forma elogiosa.

Ao saber do artigo, por meio de Zero Hora, o coordenador-geral do Grupo Somos, o advogado Gustavo Bernardes, mostrou-se "perplexo, mas não surpreso" com a postura do tradicionalista.

— Não entendo o medo deles, se são tão machos. A homossexualidade não é contagiosa. Não é doença nem perversão, já provado pelo Conselho Federal de Medicina e pela Organização Mundial da Saúde. Se fosse contagiosa ou capaz de influenciar, não haveria gays, porque eles vêm de um casal hétero — afirma.

Bernardes avalia que o preconceito com gestos femininos dentro dos CTGs deve-se a uma visão machista, que vê a mulher como um ser inferior ao homem. Segundo ele, as práticas sexuais entre pessoas do mesmo sexo não são recentes:

— Há casos desde a Grécia antiga. Nos CTGs, isso também não é de agora, só está aparecendo mais.

Para o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Oscar Gress, o artigo de Canabarro é um alerta para a preservação dos costumes gaúchos e contra os "excessos de maneirismos" de alguns homens nos CTGs. O líder maior dos tradicionalistas diz que ninguém é contra os gays, "desde que não tentem transformar os CTGs num mundo cor-de-rosa".

— Tem aparecido tanto adereço nos bailes, que qualquer dia desses alguém vai entrar vestido de prédio... Se a tchê music não pode ingressar em CTG porque descaracteriza a tradição, muito menos vamos tolerar baile gay. Que Deus me tire a vida se o MTG virar isso. Mulher é mulher, homem é homem — resume Gress, que é soldado reservista da BM.
Fonte: humberto.trezzi@zerohora.com.br