MEDITAÇÃO


Spa mental

Brasileiros buscam mosteiros, retiros e
centros de meditação para fugir do stress

Antes de o sol nascer, o monge tibetano Chagdud Tulku Rinpoche enfrenta o ar gelado das montanhas e reúne seus discípulos para a sessão de meditação no templo budista. O silêncio só é quebrado pelos mantras que os 22 residentes começam a entoar. A cena, que seria mais apropriada nas alturas do Himalaia, acontece todos os dias a 93 quilômetros de Porto Alegre, no município de Três Coroas. Ali, o primeiro templo de budismo tibetano da América Latina está recebendo os últimos retoques. Com capacidade para 400 pessoas, ele ficará pronto só no fim do ano, mas já está funcionando. Além de um pequeno grupo de internos, recebe um número crescente de visitantes. É um dos muitos centros procurados nos fins de semana por brasileiros comuns, que vivem e trabalham nas grandes cidades e querem fugir da tensão. É cada vez maior o número de seitas orientais, igrejas cristãs e institutos não religiosos que praticam a meditação como técnica de relaxamento no país.

A meditação é uma técnica desenvolvida há milhares de anos pelas religiões orientais. Mais tarde foi adotada também no Ocidente, onde era praticada em mosteiros e conventos durante a Idade Média. Ela consiste basicamente em se concentrar em algo repetitivo, que pode ser um mantra, uma oração ou um som. Alguns praticantes meditam simplesmente acompanhando o ritmo regular da respiração. É uma forma de esvaziar a mente das preocupações cotidianas. No caso das igrejas católicas, rezar um terço pode ter o mesmo efeito. Depois de alguns minutos, a repetição leva a um estado no qual a freqüência das ondas cerebrais e dos batimentos cardíacos diminui. Os instrutores recomendam que o método seja praticado em lugares tranqüilos, para evitar que a mente se distraia. Pessoas mais treinadas, porém, conseguem relaxar até mesmo dentro de um carro preso em um congestionamento.

Recomendação médica — Durante muito tempo, a meditação esteve associada à oração e à prática religiosa. Hoje, por seus comprovados benefícios à saúde, é receitada até pelos médicos. É uma das melhores maneiras, por exemplo, de combater o stress e a ansiedade. "Aprendi o valor dela e passei a indicar aos pacientes", conta o cardiologista Mário Maranhão, de Curitiba. Um estudo da Sociedade Psicossomática Americana revela que a incidência de internações por problemas cardiovasculares é 87% menor entre pessoas que fazem meditação. Quem tem mais de 40 anos e a pratica regularmente reduz em dois terços as visitas ao médico. "Os resultados aparecem em dois a três meses", diz o neurologista paulista Valter da Costa. A filial brasileira da Sociedade Internacional de Meditação, em São Paulo, já ensinou a técnica a 85.000 pessoas desde que chegou ao país, em 1967. Nos últimos anos, vem sendo requisitada também por órgãos do governo e empresas privadas. Já ofereceu cursos para 47.000 funcionários públicos, entre policiais, professores e médicos, a convite de secretarias estaduais e federais. Também assessora empresas preocupadas em melhorar o ambiente de trabalho.

A meditação é sagrada para o professor de educação física gaúcho Marcelo Soares. Há quinze anos, ele repete o ritual diário de recitar um mantra por vinte minutos. "Desenvolvi minha capacidade de concentração e agora aprendo mais rápido", afirma. Progresso semelhante foi constatado pelo atleta carioca Rui Marra. Ele garante que foi graças à prática regular que conquistou o bicampeonato brasileiro de vôo livre. "A meditação fortalece a personalidade", diz. "Com ela, a pessoa fica muito mais organizada e objetiva." Muita gente prefere meditar em retiros espirituais instalados fora das grandes cidades. Nos Estados Unidos, existe até um guia popular chamado Sanctuaries (Santuários), que ajuda a escolher o mosteiro ou convento mais adequado. Em muitos deles, quem quiser dedicar um fim de semana à meditação deve fazer reserva com antecedência. No Brasil, a tendência é semelhante. Para facilitar a adesão de pessoas que não podem ausentar-se de casa e do trabalho por muito tempo, a Casa de Retiro Padre Anchieta, no Rio de Janeiro, reduziu o programa tradicional, de trinta dias, para uma semana. Durante esse período, os freqüentadores fazem voto de silêncio e dedicam-se a leituras e orações. Com a novidade, a procura aumentou. O local está com os 45 quartos lotados até o final do ano, reservados para praticantes de fim de semana. "As pessoas chegam aqui em busca de uma conversa interior", diz o padre José Marcos de Faria, responsável pelos grupos de meditação. "No dia-a-dia, elas falam demais. Aqui, aprendem a escutar mais."