SAÚDE DO CORPO E DO BOLSO


Virando fumaça: baixa renda compromete 15% do orçamento com cigarros
por Ana Paula Ribeiro

Ruim para a saúde, péssimo para o bolso. Além de se expor mais ao risco de contrair doenças cardíacas e vasculares, o fumante vê literalmente seu dinheiro virar fumaça, mesmo quando não tem condições financeiras para sustentar o hábito. De acordo com pesquisa do site Eu quero parar*, mais da metade (60%) dos internautas fumantes de baixa renda, que ganham até dois salários mínimos, comprometem 15% do orçamento ou R$ 124,50, ao consumirem marcas mais caras de cigarros, que custam acima de R$ 3 o maço.

Ainda segundo o levantamento, que contou com a participação de 4.218 pessoas, no quesito consumo, as mulheres aparecem à frente dos homens. Os maços com preço superior a R$ 3 são os preferidos de 41% das fumantes do sexo feminino e de 31% dos fumantes do sexo masculino. Além disso, 44% delas fumam mais de 21 cigarros por dia, índice superior ao deles (35%) e ao da média geral (43%).

Além de comprometer a renda, a pesquisa mostrou que o tabagismo interfere em outros aspectos da vida dos pesquisados. Para 53%, fumar atrapalha a vida profissional, e para 70%, a pessoal.

Em 30 anos, gasto com cigarro equivale a valor de imóvel
Caso mantenha o hábito por longo período, o fumante que destina 15% do seu orçamento aos cigarros pode acumular um prejuízo equivalente ao valor de um imóvel, conforme cálculo realizado recentemente pelo consultor financeiro Reinaldo Domingos. `Se pegarmos um maço de cigarro a R$ 2,75 e capitalizarmos a juros de 1% por 30 anos, teremos aproximadamente R$ 288 mil de provável economia, não apenas para o bolso, mas também para a saúde`, afirmou, segundo a Agência Brasil.

Embora pareçam impressionantes, as projeções do consultor fazem sentido, quando se contabilizam as despesas diárias com o fumo. Considerando que consuma diariamente um maço que custe R$ 3, preço superior ao mencionado por Domingos, mas detectado como o mais comum na pesquisa, o fumante desembolsará em um mês R$ 90.

Esse gasto mensal chega a R$ 10.950, para quem é fumante há mais de dez anos, conforme a tabela abaixo, que traz ainda a evolução das despesas com um e dois maços ao dia, considerando outros períodos:

Um maço / Dois maços
Um ano / R$ 1.095 / R$ 2.190
Cinco anos / R$ 5.475 / R$ 10.950
Dez anos / R$ 10.950 / R$ 21.900
Fonte: Infomoney

Ofensiva do governo
Para diminuir a incidência do tabagismo no país, o governo vem desenvolvendo e implantando uma série de ações. Uma delas, em vigor desde meados do ano passado, afeta diretamente o bolso do consumidor: o aumento de até 30% do IPI (Imposto sobre Produtos Importados) incidente sobre os cigarros, o que tornou o produto 15% mais caro.

Ainda assim, está em discussão a proposta do Inca (Instituto Nacional do Câncer) de se aumentar o preço do maço para algo em torno de R$ 4 ou R$ 5. A medida, que conta com o apoio do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e vai de encontro à política defendida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), foi bastante criticada pela Receita Federal. Para o Fisco, que considera razoável preços na faixa de R$ 1,75, o encarecimento do cigarro pode elevar o número de ocorrências de contrabando.

Temporão, por sua vez, argumenta que a elevação nos preços dos cigarros (e também das bebidas alcoólicas) não só inibiria o consumo como também geraria mais impostos, ampliando os recursos para a Emenda 29, que fixa limites de aplicação do governo para a Saúde.

A proposta deve tomar mais corpo agora, quando o Congresso discute justamente essa Emenda e formas de se compensar as perdas da arrecadação com o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira).

É proibido fumar
Outra medida para desestimular o tabagismo no país vem sendo adotada por alguns governos estaduais e municipais. A exemplo do que já ocorre em países como França e Turquia, decretos do governo do estado do Rio de Janeiro - em vigor a partir do próximo dia 31 - e da prefeitura de São Paulo - que já vale desde fevereiro deste ano - determinam a proibição do fumo em ambientes fechados, entre eles, bares e restaurantes, e a criação de locais especiais e separados para os fumantes.

Há possibilidade da medida se estender para todo o Brasil, com a sanção presidencial do projeto que modifica a lei 9.292/96, que prevê a proibição total do fumo em locais fechados.

Essa proposta pode encontrar apoio popular. De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Datafolha, a pedido da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), 88% dos entrevistados são contrários ao fumo em ambientes fechados e 68% são favoráveis ao projeto de lei.

Para 88,5% dos 1.992 pesquisados, caso vigore a proibição, a freqüência em estabelecimentos como bares, restaurantes e casas noturnas não mudará, embora 23% se declarem fumantes.

Por enquanto, a única iniciativa que comprovadamente surtiu resultados é a da restrição à publicidade do tabaco, que passou a ser limitada à parte interna dos locais de venda e ficou proibida na mídia, como a televisão. Conforme revela o pesquisador da Unifesp, Elisaldo Carlini, essa proibição, estabelecida há mais de seis anos, foi o principal fator para a queda no consumo de cigarros entre jovens. Segundo estudo realizado por ele e outros quatro docentes, o índice de fumantes adolescentes, que havia passado de 22,4% em 1987 para 32,7% dez anos depois, voltou a cair, para 21,7%, em 2005.

Tratamento gratuito
Para aqueles que, apesar dos benefícios, não conseguem abandonar o cigarro, devido à dependência, o Ministério da Saúde oferece um programa de apoio, que inclui terapia de grupo, em uma etapa inicial, e distribuição de medicação - adesivos para o corpo, goma de mascar e o remédio bupropiona, aos casos mais graves.

Instituído em 2002, o programa é atualmente integrado por 380 unidades de atendimento em todo o país. Os interessados pelo tratamento podem ligar para Disque Saúde do SUS (Sistema Único de Saúde): 0800 611997.

Fonte: Infomoney.