OBESIDADE


Criança x balança
Com o peso subindo cada vez mais, baixinhos
e jovens aderem a regimes, spas e terapia

Os spas, remédios, as dietas e terapias, peças de artilharia do arsenal que compõe o cotidiano do engorda-emagrece da maioria dos adultos gorduchos, vão se adaptando para tornar mais leve a vida de um contingente particularmente difícil de entrar na linha: o das crianças e adolescentes infelizes com seu peso. Muitos reclamam sem motivos sérios — nessa fase de briga com a própria imagem, nada além da esquelética modelo faz a sua felicidade. Mas há uma multidão de baixinhos que estão, de fato, gordinhos: mais precisamente 15 milhões de crianças e jovens, ou 25% da população infanto-juvenil (mesmo porcentual dos Estados Unidos, campeoníssimos no assunto), pesam mais que o ideal no Brasil. Mais preocupante, pela gravidade e dificuldade de tratamento, é o grupo que engrossa a estatística da obesidade verdadeira, uma doença que afeta 1,5 milhão de crianças no país.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, 35% dos adultos obesos foram gordinhos desde o primeiro ano de vida e aí a batalha é duríssima. "Faço dieta desde que me tenho por gente", conta Rafaela Fischer. A filha da esplendorosa Vera Fischer não tem nada de obesa, mas sempre brigou com a balança. Atualmente, esbanja boa forma, com um recorde de 14 quilos queimados na marra. Fazendo regimes o tempo todo — "Nunca aceitei a hipótese de ser gorda", diz —, Rafaela é velha conhecida do efeito sanfona, do engorda-emagrece incessante. "Minha auto-estima estava tão baixa que andei faltando até a entrevistas de emprego", confessa a atriz. Há sete meses, foi morar sozinha pela primeira vez. Três meses depois, radicalizou. Partiu para uma dieta de proteínas, com muita carne, ovos e queijo. Cortou o açúcar, as massas e o álcool. Trocou as noites em boates por manhãs na praia e tardes na academia de ginástica, onde, como não podia deixar de ser, começou a namorar o treinador Leonardo de Mesquita. A grande preocupação de Rafaela agora é não ter uma recaída. "Ser magra é muito bom", festeja.

Maus hábitos — Uma das causas mais constantes do excesso de peso em crianças é o velhíssimo mito de que bebê gordinho e criança redondinha são sinônimo de saúde. "Ainda existe muita mãe que põe farinha para engrossar a mamadeira de seus filhos", garante o endocrinologista Fábio Ancona Lopez, da Universidade Federal de São Paulo. "Elas mesclam duas atitudes negativas, a superproteção e a superalimentação." Entulhar o filho de comida tem efeitos ainda mais dramáticos se conta com aliados como o sedentarismo e os maus hábitos alimentares desta geração de gordinhos. "As crianças não brincam como antigamente", constata o endocrinologista Alfredo Halpern, presidente da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade. "Elas ficam em frente da TV ou do computador, com um pacote de biscoitos e uma lata de refrigerante." Resultado: quilos a mais, auto-estima em queda, problemas na escola. "É muito chato ser chamada de baleia, a patinha feia da turma", conta Milena Batista, 11 anos, que, com 66 quilos, está há três meses encarando uma dieta com adoçantes, gelatinas e poucas calorias, além de gastar a sapatilha em aulas de balé e jazz. Já perdeu 2 quilos — com constante acompanhamento médico — e quer livrar-se de mais "uns 6".
Fonte: Veja