Ph.D. em casamento
Chico Anysio escreve livro sobre relacionamentos
no qual diz que aprendeu com os próprios erros." Ex-mulher minha não casa de novo. Pago pensão a todas"
Marcelo Carneiro
Selmy Yassuda
Veja – O senhor se considera um especialista em casamentos e vai lançar um livro sobre o assunto, mas já deu fim a cinco relacionamentos. Não é um contra-senso?
Chico Anysio – Não. Um sujeito que é casado há setenta anos com a dona Maria não entende de casamento, entende é de dona Maria. O casamento é como a vida, você aprende com os erros. Eu tenho cinco que não deram certo. Já sei de cinco erros que cometi e de outros cinco que as minhas ex-mulheres cometeram. Alguém que errou tanto pode falar do que deve dar certo.
Veja – E quais foram os seus erros?
Chico – Ninguém ama igual duas vezes, mas os erros de um casamento são muito parecidos. Alguns têm a ver com o temperamento da pessoa. Eu, por exemplo, passei muito tempo tentando corrigir o que achava errado nas minhas mulheres. Às vezes procurava mulher complicada só para depois consertar, dizer que botei do meu jeito. Homem curte essa. Também há erros que não dependem de características pessoais. Filhos, por exemplo, são a melhor coisa, mas estragam qualquer relacionamento.
Veja – Por quê?
Chico – O filho cria uma dificuldade para o sexo, que antes era livre, possível de ser feito a qualquer momento. O casal passa a ter interrupções. Se está fazendo amor e a mulher diz "Peraí, acho que ele acordou, já volto", o sexo daquele dia já está acabado. Além disso, o amor que a mulher dava para você na totalidade agora é dividido com o filho. Ele passa a ter prioridade. É por isso que casais sem filhos se separam menos. Já falei com a Malga, minha nova mulher, que vou congelar meu sêmen. Quando eu morrer, se ela quiser poderá engravidar.
Veja – A infidelidade destrói um casamento?
Chico – Nunca traí minhas mulheres, mas já fui traído por uma delas, a Rose (Rondelli, ex-atriz). O argumento que ela me deu para me trair foi muito absurdo. Ela falou: "A minha vida é muito chata, tenho tudo o que eu quero, carro, motorista, viagens à Europa". Saí de casa na hora.
Veja – O senhor tem sete filhos de cinco casamentos diferentes. É complicado administrar os conflitos entre eles?
Chico – Com a Zélia (Cardoso de Mello, ex-ministra da Economia, que hoje vive em Nova York e com quem o humorista tem dois filhos pequenos), tive alguns problemas. No início, ela tratava muito bem meus filhos menores de outros casamentos. Depois da gravidez, porém, passou a não suportá-los. Hoje, no caso dos meus filhos com ela, é um pouco complicado. Vou na sexta-feira para Nova York e volto no domingo. Isso é coisa para comissário de bordo. Mas gosto muito de ficar com eles.
Veja – Seu mais recente casamento aconteceu após quinze dias de namoro. Não é uma precipitação?
Chico – Desses quinze dias, passamos doze juntos e tive a certeza de que ela era a pessoa certa. O problema maior era a diferença de idade. Mas até isso eu acho divertido. A Malga nasceu em 1970. Ela não sabe quem foram Rivelino, Samuel Wainer ou Trini Lopez. Um psicólogo americano mostrou que o homem deve ter trinta anos a mais que a mulher. Ele acha que há uma maior complementação. Eu concordo. Com a Malga sou ao mesmo tempo marido, amante, pai, filho, professor, aluno.
Veja – Com relação ao sexo, a diferença de idade não atrapalha?
Chico – O Viagra ainda não se fez necessário para mim. Mas, se eu chegar a precisar dele, vou ao meu cardiologista perguntar se posso tomar. Sou cardíaco, tive um infarto por causa do cigarro. Mas apóio tudo o que prolongue a função sexual de um casal.
Veja – O senhor é um bom ex-marido?
Chico – Ex-mulher minha não casa de novo. É muito difícil para um marido resistir a uma comparação comigo. Até hoje dou pensão a todas as minhas ex-mulheres, inclusive para a Nancy Wanderley (ex-atriz), com quem tenho um filho de 42 anos. Só para a Zélia, são 10.000 dólares por mês. Também nunca falei mal de nenhuma ex-mulher para os meus filhos. Em algumas oportunidades eu tinha o que falar e mesmo assim não falei. Sei que elas também nunca fizeram isso. A única pessoa que fala mal de mim é a mãe da Zélia.
Veja – Que é uma de suas ex-mulheres...
Chico – Mas a Zélia não fala mal de mim, só a mãe dela. Ela fala para as crianças: "O seu pai é um pilantra". Se houvesse um fundo de verdade eu poderia até me preocupar, mas a coisa é tão estapafúrdia que eles vão crescer e ver que é mentira. A Zélia é uma mulher inteligente, mas a mãe dela é uma pessoa muito difícil. Eu acho que a única pessoa que a suportava era eu. Ela deve sentir saudade de mim.
Veja – Brigas com a sogra também não são um erro comum em casamentos que fracassam?
Chico – Jamais contei uma piada sobre sogra justamente por essa razão. No caso da Zélia, houve outros fatores. Depois do livro sobre o romance com o Bernardo Cabral, que a tornou uma pessoa odiada, ela perdeu a chance de voltar ao poder. E quem teve poder não consegue mais viver sem ele. Ela passou a reclamar de ter de ir ao restaurante e esperar uma mesa vagar, por exemplo.
Veja – Por que os programas de humor da Globo têm registrado baixos índices de audiência, chegando a ser batidos semana após semana pelos filmes do SBT?
Chico – A Globo não está perdendo para o SBT, mas sim para Hollywood. Você não pode querer que um programa como Muvuca ganhe de Striptease. Nenhum programa ganharia. O Silvio Santos está jogando pesado. Mas ele não terá esse peso durante muito tempo, porque Hollywood não faz um Striptease por semana. Além disso, a Globo fez contratações erradas. A Ana Maria Braga era a Hebe da Record, com quatro horas por dia no ar. Na Globo, passou a ter cinqüenta minutos. Foi pior para ela e para a Globo. O Serginho Groisman é muito bom, mas hoje não há nem horário para ele. Já o Luciano Huck saiu da Bandeirantes e o rapaz que entrou em seu lugar está dando mais audiência do que ele dava. A Globo não precisa desses artistas, devia contratar comediantes de força, como Ronald Golias. Se A Praça É Nossa estivesse na Globo, teria 32 pontos no Ibope. Se o Casseta & Planeta estivesse no SBT, não daria 5 pontos. O que sei é que hoje há muita gente na Globo ganhando o dobro do que eu ganho, com um índice de audiência muito menor do que o meu no Zorra Total.
Fonte: Veja.