CARTÃO DE CRÉDITO

Especialistas: dívida com cartão de crédito é "armadilha"
Fabiano Klostermann

O forte aumento das compras parceladas no cartão de crédito, expansão de 85% no acumulado desde 2005, segundo o Banco Central, já acende a luz de alerta nos bancos para a inadimplência. Segundo analistas, a dívida nessa modalidade de crédito, chamado de rotativo, tem os juros mais altos do mercado e, em conjunto com o cheque especial, deve ser evitada pelos clientes dos bancos.

Segundo o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Andrew Storser, o parcelamento no cartão de crédito é uma `armadilha`.

`Nsse ano, nós tivemos ovos de Páscoa comprados em seis vezes. Tem algo que não está muito correto nisso. Muita gente parcelou a ceia de Natal também. Essas pessoas vão passar o ano inteiro pagando essas despesas e não sabem se terão emprego e renda por todo esse período`, explica.

Para o coordenador do curso de Administração das Faculdades Integradas Rio Branco, Douglas Renato Pinheiro, a dificuldade do brasileiro em entender a matemática financeira acaba levando as pessoas a contraírem dívidas e necessitarem de crédito.

`Caso a crise (de crédito) americana afete o País e muitas pessoas percam o emprego, a primeira coisa que elas vão parar de pagar vai ser o empréstimo, e isso vai gerar problemas para o sistema financeiro. Esses juros muito altos com prazos longos não há quem agüente`, afirma.

Para Storser, é de interesse dos bancos oferecer um crédito mais caro para os clientes. `Quando você abre uma conta no banco, qual o primeiro produto que eles te oferecem? Limite no cheque especial. É um crédito fácil, mas que acaba saindo caro`, diz.

O professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios Alcides Leite afirma que o cartão de crédito nunca deve ser usado para financiamento das dívidas nele contidas, com o chamado pagamento mínimo ou parcial. `Ele deve ser usado só para parcelamento de compras ou centralização por questões administrativas, para rolar uma dívida imediata, como luz, telefone, etc. Mas sempre pagando o valor integral da fatura`, lembra.

Já estou endividado, o que faço?

Para quem não resistiu à tentação das compras e está com dívidas no cartão de crédito e/ou cheque especial, a sugestão dos analistas é uma só: troque essas dívidas por uma que tenha taxa de juros menores. `A pessoa que está nessa situação tem que procurar em diversos bancos, gastar tempo mesmo para tentar fazer uma dívida com juros mais decentes`, afirma Storser.

Segundo ele, apesar de ainda serem altas, as taxas do crédito consignado são muito mais atrativas do que as do cheque especial e cartões de crédito. `Estamos falando de 1,5% a 2% contra 8% a 11% do cartão e do cheque especial`, diz o diretor.

De acordo com Douglas Renato Pinheiro, outra consideração importante a ser feita pela pessoa nessas condições é que nenhum investimento tem rendimento maior que a taxa de juros destas dívidas. `Se a pessoa tem uma caderneta de poupança, por exemplo, é melhor sacar esse dinheiro e pagar as dívidas`, explica.

Outra opção indicada, caso não exista investimento ou crédito consignado disponível, é o empréstimo pessoal. Segundo os analistas, essa modalidade, apesar de contar com juros um pouco mais elevados (em torno de 5%), pode ajudar a planejar, com parcelas, a quitação da dívida original.

No entanto, essa e outras modalidades de crédito ainda têm algumas particularidades que devem ser levadas em conta pelo consumidor. Segundo o diretor de economia da Anefac, é preciso atenção para o Custo Efetivo Total (CET), dado que deve ser obrigatoriamente informado pelos bancos em operações de crédito feitas a partir do último dia 30.

`Muitas vezes os bancos cobram uma TAC (taxa de abertura de crédito) que pode encarecer e muito o empréstimo. Cabe ao cliente lutar contra isso, ameaçando fechar sua conta para conseguir que esses valores não sejam abusivos`, explica Storser.

Como exemplo dessa distorção, um empréstimo pessoal de R$ 200, com taxa anunciada de 5,82% ao mês para pagamento em 4 parcelas, teve seu CET mensal elevado para 15,59%, após cobrança de uma TAC de R$ 45 e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de R$ 2,53. Nessas condições, o consumidor pagará parcelas de R$ 71,30, que totalizam um desembolso de R$ 285,20 para quitar a dívida.

Crédito com garantia real

Em casos mais desesperadores, o professor Douglas Renato Pinheiro indica o crédito com garantia real que é oferecido por muitos bancos. Segundo ele, trata-se de uma modalidade que tem como garantia de pagamento do empréstimo um bem, como um carro, por exemplo. `Caso as dívidas fujam do controle, a pessoa pode fazer uma espécie de refinanciamento, recebendo parte do valor do seu carro e pagando os valores com taxas de 1% a 2% ao mês`, indica.

Para Andrew Storser, uma situação crítica deve ser encarada com medidas drásticas. `Caso fique sem opção, venda um bem, pague a dívida e o compre de novo`, afirmou.

Fonte: Terra