ELEIÇÕES 2008

Internet é ferramenta de pré-candidatos à Casa Branca para atrair eleitorado jovem

As eleições presidenciais norte-americanas estão longe de terem sido definidas. Democratas e republicanos nem escolheram os candidatos que vão participar da corrida à Casa Branca. Mas, pelo que já se viu nestes dois primeiros meses de campanha, uma coisa é certa: quem quiser ocupar o Salão Oval pelos próximos quatro anos precisa estar bem atento ao que acontece no mundo virtual. E, de acordo com especialistas, quem leva ampla vantagem é o pré-candidato democrata Barack Obama.

De acordo com um estudo da Pew Research Center, 15% dos eleitores americanos recorrem à Net para obter informações sobre a campanha. Não é um número alto - principalmente quando comparado com a televisão, fonte de informação para 60% dos eleitores -, mas os sites já são mais consultados do que os jornais (12%), o rádio (8%) e as revistas (2%).

O número também apresenta um crescimento expressivo quando comparado com o de quatro anos atrás, quando George W. Bush foi reeleito. Nas eleições de 2004, os sites foram consultados por cerca de 6% dos eleitores.

E a explicação para esse crescimento está justamente na participação dos jovens, de acordo com Marcelo Coutinho, professor da pós-graduação em Comunicação Pública da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), de São Paulo. "A Internet já é o segundo meio de comunicação mais importante na eleição dos EUA, principalmente entre os jovens", afirma. "Para esse público, [os sites] têm tanta influência quanto à TV."

O eleitor jovem hoje se socializou no mundo virtual", afirma o pesquisador. Isso quer dizer que os meios de comunicação comuns foram deixados de lado por essa parcela do eleitorado. "A Internet acaba ocupando o espaço que ficou vago nos outros meios. Principalmente porque oferece muito mais interações."

"A Internet veio para cobrir um novo campo da mídia, que você não conseguia atingir no passado. Hoje, é possível ligar essa gente numa nova comunidade internauta, que se comunica online a todo momento e cria um fenômeno que nós nem sabemos ainda aonde vai parar", acrescente Ney Figueiredo, consultor político e integrante do Conselho Superior de Pesquisa de Opinião Pública da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

E é nas redes sociais e nas novas ferramentas da Web que os eleitores jovens encontram a tão apreciada interação, segundo Coutinho. "Entre aqueles que vão buscar informações pela Internet, 5% recorrem a sites como mySpace e YouTube", afirma. As grandes redes de comunicação, porém, continuam dominando a audiência online. "Mesmo na Internet, predomina a grande mídia. Sites como MSNBC, CNN e Fox News são os mais procurados. O que só reforça a importância da mídia convencional de trabalhar com a mídia digital."

Celebridades "empurram" Obama
Além de ser uma ferramenta de aproximação com o público jovem e com a população mais experiente com as novidades tecnológicas, a Internet se mostrou uma valiosa aliada para obter algo de extrema importância para os pré-candidatos: dinheiro para custear as campanhas. Não é à toa que os principais pré-candidatos à corrida presidencial de 2008 (Barack Obama e Hillary Clinton, entre os democratas, e John McCain e Mike Huckabee, dos republicanos) contam com sites onde os simpatizantes podem fazer doações.

É claro que alguns pré-candidatos se saem melhor que os outros e já existem até índices criados para medir o desempenho deles no mundo virtual. Para as eleições de 2008, a consultoria Spartan Internet criou o Sipp Index, que mede 650 fatores quantitativos para avaliar justamente quais candidatos utilizam melhor a Internet para se conectar aos eleitores.

O vencedor? Disparado, Barack Obama, que atualmente está na frente da senadora Hillary Clinton por uma vantagem pequena. Entre os recursos avaliados pelo índice Sipp para medir quão bem conectados os candidatos estão com seus eleitores contam-se redes sociais, vídeos, sites e as maneiras como tudo isso é utilizado para envolver as pessoas nas campanhas.

"Ele (Obama) está se apresentando como o candidato da mudança e isso atrai o público jovem", afirma o consultor Ney Figueiredo. "Ele ocupa muito a mídia da Internet. Quando ele vai para algum lugar fazer um comício, já existe uma massificação que foi criada pelo mundo virtual."

De acordo com o Sipp Index, Obama tem 33,47% de presença no mundo virtual. Hillary conta com 18,78% de participação, enquanto McCain e Huckabee têm 10,20% e 9,68%, respectivamente.

O site de Obama (www.barackobama.com) lidera pois está presente no maior número de redes sociais (16), site que tem audiência jovem, em sua maioria. Aparentemente, Obama gostou tanto da idéia das redes sociais que criou a sua: o internauta que visita o site do pré-candidato é convidado a criar um perfil no endereço my.barackobama.com e a se comunicar com outros eleitores.

Além disso, oferece vídeos, textos e ainda conta com instruções para que os eleitores possam participar voluntariamente. Sem falar no espaço para doações, claro. Até o fechamento desta reportagem, o pré-candidato democrata havia arrecadado mais de 924 mil pessoas haviam feito doações à campanha do democrata. Ou seja, muito perto do objetivo de conseguir 1 milhão de doadores. Os valores não foram divulgados.

Nas últimas semanas, a presença do democrata explodiu com a divulgação, pela Web, de um vídeo dirigido por Jon Dylan - filho do ícone roqueiro Bob Dylan - e com música do rapper will.i.am, do grupo de R&B Black Eyed Peas. Em cerca de duas semanas, o vídeo foi visto mais de 7 milhões de vezes em apenas um site.

Os sites dos outros pré-candidatos oferecem, basicamente, opções para que os internautas façam doações, assistam a vídeos e conheçam melhor os perfis e históricos de cada um. Hillary se destaca com uma ferramenta que permite aos eleitores fazerem ligações para convencer outras pessoas a participar da campanha e a votar na candidata ns próximas primárias.

Para os candidatos que ficaram para trás no quesito tecnologia, Coutinho, da ESPM, oferece algum conforto. "Ninguém vai ganhar a eleição porque tem um site mais bonitinho, esse efeito ainda é difícil de quantificar. Entre os eleitores jovens, porém, essa eleição é um divisor de águas."