Aumenta número de alunos que trocam escola particular pela rede pública



O aperto no orçamento levou mais famílias a trocarem os filhos de escolas particulares para a rede pública estadual. A primeira fase de novas matrículas terminou ontem (22), às 23h59 e, segundo a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), para o ano letivo de 2016 houve 27.357 inscrições de alunos que estudavam na rede privada, enquanto para 2017, o número atingiu 32.350.

O secretário de Estado de Educação, Wagner Victer, destacou que este é um movimento que vem ocorrendo desde 2014 e, por isso, a Seeduc se preparou para receber os novos alunos, que este ano representaram uma demanda maior. Victer revelou que, dentro do planejamento para 2017, que durou quase seis meses, já havia a expectativa de crescimento na ordem de 15%.

“Estamos aptos a atender, em função até da otimização que a gente faz de turmas e de escolas. Tínhamos algumas escolas com salas ociosas, além da aplicação dos nossos recursos humanos. Vamos atender tranquilamente este crescimento que é um crescimento significativo”, disse à Agência Brasil.

Victer afirmou que a rede pública também tem se esforçado para melhorar o conteúdo e as condições de ensino para diminuir a diferença com a rede privada.

De acordo com o secretário, nos últimos anos os dados têm mostrado que a distância tem se reduzido. “Há problemas também na rede privada e temos que trabalhar para, permanentemente, melhorar a rede pública. Mas temos também centros de excelência na rede pública. Na semana que vem vamos abrir vagas para 30 novas escolas em municípios muito pobres com ensino integral e voltadas para o empreendedorismo. Na maioria desses municípios sequer existe ensino privado em ensino integral”, afirmou.

Aperto econômico

O economista da Fundação Getulio Vargas, André Braz, disse que a fuga das famílias da rede privada é decorrente do aperto econômico, agravado pela recessão, que vem se formando desde 2014 e que se manifesta no aumento da taxa de desemprego. “Como o desemprego agora está no auge e há previsão de que possa avançar um pouco ainda nos próximos meses isso também diminui a capacidade de pagamento das famílias e, então, tem muita migração do privado para o público e essa migração é real, porque se perde o emprego não tem condição de manter uma mensalidade escolar. Isso é bem característico de momento de recessão”, disse.

Impacto da educação no orçamento

André Braz afirmou, ainda, que a educação compromete cerca de 5% do orçamento familiar, desde a creche ao nível superior, na média para famílias de 1 a 33 salários mínimos mensais. Logo no início do ano, em janeiro, as famílias sofrem, o impacto do reajuste das mensalidades de 2017. “O reajuste previsto para o ano que vem está na faixa de 10% a 12%, então, levando esse reajuste médio em consideração e pesando quase 5% dá para a gente ter um impacto da inflação de janeiro de aproximadamente meio ponto percentual, só por conta do reajuste das mensalidades escolares”, afirmou.

O economista destacou ainda que, além do comprometimento do orçamento com as mensalidades, há uma série de gastos indiretos com material e transporte escolar e uniforme. “Todo o orçamento destinado à educação supera os 5%, que são apenas os gastos com material escolar”, completou.
Volta à escola

A procura por novas inscrições na rede pública do estado refletiu também a dificuldade em conseguir emprego no estado. Houve aumento relevante no número de pessoas que estavam afastadas dos estudos. Enquanto em 2016, foram 3.852 inscrições, para 2017, aumentou para 13.524 o total de candidatos, que fizeram cadastro pela internet em busca de uma vaga nas salas de aula. “Acho que é uma perspectiva de que hoje é necessário voltar a se qualificar para ingressar no mercado de trabalho. O mercado estava muito ofertante em demanda e hoje reduziu a demanda e as pessoas têm que se qualificar. Isso se dá em todas as séries, mas está mais focado no ensino médio. É um detalhe muito importante”, ressaltou.


Cristina Indio do Brasil  da Agência Brasil

Edição: Maria Claudia