Eleitores preferem políticos com voz mais grave, diz estudo
Eleitores preferem políticos com vozes mais graves, segundo um estudo americano.
A revelação sugere não apenas que homens e
mulheres com vozes graves podem ser mais bem-sucedidos ao competir por
posições de liderança.
Segundo os cientistas envolvidos,
ela pode ajudar a explicar por que há menos mulheres em cargos de
liderança. Além disso, é um indicador de que, embora sejamos livres para
escolher nossos líderes, não estamos imunes a influências biológicas.
Pesquisadores do Departmento de Ciência Política
da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, gravaram homens e
mulheres dizendo a frase I urge you to vote for me this November em
tradução livre, Eu faço um apelo para que você vote em mim neste mês de
novembro. A menção do mês é uma referência à eleição presidencial americana no final deste ano.
As vozes tiveram suas frequências alteradas
eletronicamente para soar mais graves (frequências mais baixas) ou mais
agudas (frequências mais altas).
Os participantes do experimento foram então convidados a votar nas vozes.
Em artigo publicado na revista científica Proceedings of the Royal Society B., os autores disseram que tanto homens quanto mulheres selecionaram líderes com vozes mais graves.
Margaret Thatcher
Falando à BBC, o líder da equipe, Casey
Klofstad, explicou que estudos anteriores já haviam concluído, por
exemplo, que tons de vozes mais graves em homens são considerados mais
atraentes.
E que a voz mais grave é um indicador de dominância social tanto em homens quanto em mulheres.
Há uma percepção geral de que pessoas com vozes mais graves são mais persuasivas, mais elegíveis, disse Klofstad.
Há uma percepção geral de que pessoas com vozes mais graves são mais persuasivas, mais elegíveis
Casey Klofstad, pesquisador da Universidade de Miami
Outro fator que nos levou a fazer esse estudo
foi o fato de que se você observa na mídia, apresentadores tendem a ter
vozes mais graves.
No filme sobre a vida da ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher, A Dama de Ferro, a personagem central, interpretada por Meryl Streep, é vista fazendo aulas para aprender a falar com voz menos aguda.
Se eu me lembro bem, havia uma percepção de que
Thatcher tinha uma voz estridente. Isso pode ser um problema para
mulheres, especialmente quando elas falam alto, comentou Klofstad.
Mas não é algo exclusivo a Thatcher. Em todo
lugar, nos Estados Unidos, na Grã-Bretanha, candidatos recebem aulas
para soar mais persuasivos, mais elegíveis.
Experimento
Para evitar que os participantes do estudo
fossem influenciados por fatores externos, os homens e mulheres cujas
vozes foram gravadas para ser utilizadas no estudo eram desconhecidos.
A manipulação eletrônica foi sutil, explicou o especialista.
A diferença em tom foi de 40 Hertz (unidade de
frequência), mas estudos anteriores demonstraram que (essa variação) é
perceptível e faz diferença.
E embora a voz fosse desconhecida, a mensagem
era politicamente relevante, explicou Klofstad, colocando o ouvinte
imediatamente no contexto das eleições americanas.
Mas o que é que as pessoas estão elegendo ao votar na voz mais grave?
Para entender que qualidades estão associadas à voz grave, os pesquisadores fizeram um segundo experimento.
Em vez de perguntar em que vozes os
participantes votariam, a equipe pediu que os voluntários dissessem que
vozes pareciam mais competentes, fortes e confiáveis.
Escolhemos esses adjetivos porque a literatura
de ciência política mostra que essas são as qualidades que as pessoas
procuram quando escolhem candidatos.
O que verificamos é que tanto homens quanto
mulheres têm uma percepção de que vozes femininas mais graves são mais
competentes, fortes e confiáveis.
Em relação a vozes masculinas, no entanto, o resultado foi diferente.
Mulheres não diferenciaram vozes masculinas
agudas e graves em termos de competência, força e confiabilidade,
explicou Klofstad. Homens, em contraste, interpretaram as vozes
masculinas graves como sendo mais competentes, fortes e confiáveis.
Mundo real
A equipe americana reconhece que seu estudo pode
ter impacto sobre a forma como partidos políticos escolhem seus
líderes. Mas Klofstad disse que é preciso ter cautela quando se tenta
extrapolar as conclusões do trabalho.
O que fizemos foi um estudo de laboratório usando situações hipotéticas.
Nossa motivação foi, uma vez feito o estudo,
aplicá-lo ao mundo real e ver como as variações de tom podem afetar as
eleições de verdade.
Ou seja, é preciso fazer mais pesquisas sobre o assunto.
No entanto, após ler esse estudo, muitos vão
achar difícil resistir à tentação de comparar as vozes dos candidatos às
eleições para tentar adivinhar quem será vencedor.
BBC Brasil
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