MODA NOVA EM MONTENEGRO



            Hoje, para se sair à rua, deve-se adequar a determinadas regras, principalmente quando se vai a pé. Estas, se observadas e seguidas, determinarão o grau de arrependimento que você poderá ter, ou não ter, conforme a decisão que tomar.

            A primeira regra: antes de sair, olhe para o céu. Descubra se haverá possibilidades de chuva. Caso a resposta seja negativa, saia, mais ou menos tranquilo, pois nunca se sabe quando vai desabar "aquele toró". Porém, se a resposta for positiva, pelo amor de Deus, fique em casa, sob pena de ficar a remoer um amargo arrependimento.

            A segunda regra: no entanto, estando já a chover, e você tiver que ir urgentemente ao supermercado ou ao seu trabalho, não há escolha! Primeiramente faça uma oração, pedindo a Deus para que o líquido precioso  que Ele despeja sobre nós caia de forma branda, sem grande alvoroço, para dar tempo de você ir e voltar, sem ter que enfrentar situações inesperadas. Mas fique atento: caminhe sempre fora das calçadas porque a MODA, AGORA, é deixá-las livres, para que a enxurrada que velozmente corre pelas valetas amplie seu espaço natural, levando "aquilo tudo" e muito mais, e não precise carregar você também.

            A terceira regra: na hipótese de você, assim mesmo, por teimosia, optar por ir pelas calçadas, azar seu! Posso garantir que logo você estará com "a pulga atrás da orelha". Logo chegará, muito mais cedo do que você pensa, aquele instante cruel em que você se perguntará: "E agora"? "Sigo em frente"? "Volto e passo por toda aquela água que já passei"? "Ou salto a valeta e me lanço no meio da rua"? Mas e o comprimento das minha pernas"? "Será que consigo pular além da valeta"? Enquanto você assim pensa, a água já subiu, pelo menos 15 cm.

 (Na indecisão, você entra numa padaria à espera de que um milagre aconteça e de que aquela água toda desapareça, num passe de mágica. Na porta da padaria, há um dispute de espaços. Alunos da escola próxima começam a sair. Chega a mãe com três crianças pequenas e também as coloca naquela porta salvadora: depois, heroicamente, salta naquele aguaceiro todo e as vai levando, uma a uma para a calçada do outro lado da rua, encostando-as uma de cada vez no muro, fazendo recomendações. Muitas crianças vão passando e, sem escolha, com medo ou sem medo, vão passando pelas águas. Algumas delas correm atrás dos chinelos que a enxurrada tenta carregar. Outras derrubam objetos. Bem na esquina da escola, a mãe com a criança no acento traseiro da bicicleta perde o equilíbrio, pela força da água e, por pouco, pessoas e bicicleta caem dentro d’água...Mas sempre há um muro salvador...Um homem na porta da padaria diz para um menino: "Por que você não trouxe prancha? Olha as ondas lá na esquina"!)

Última regra: como não há mais o que fazer, se jogue valeta a dentro, assim como tantos já o fizeram. Passe para o meio da rua onde a água é bem menos funda, cuidando dos carros que vêm e vão. Desista de ir ao supermercado. (Mas vá ao seu trabalho!) Volte para casa. Não sinta pena da sua roupa nem do seu tênis. O cheiro deles e de você inteiro "ninguém merece", mas tudo bem...Não há nada que água de torneira e desinfetantes não resolvam. Ao chegar, vá logo tirando os tênis e a roupa no primeiro espaço interno que encontrar. Corra ao banheiro. Banhe-se demoradamente, primeiro com sabão, depois com sabonete (esta é a única vez em que você poderá ter um banho demorado). Então pense: "AQUI E AGORA É O PARAÍSO!"

Estas regras se adaptam a uma rua chamada Osvaldo Aranha, numa cidade como você está vendo agora, numa patria chamada Brasil, onde a criatividade tudo supera, mas que em fatos como os mencionados ela de nada adianta. Também, segundo queixa geral, servem para quase todas as ruas do centro da cidade, em que até alguns locais de comercio tiveram seus recintos invadidos pela água, em momentos, da mesma forma, caóticos para o trânsito de veículos!

            Será que o CONDUTO tem a ver alguma coisa com isto??!
            (DELCI MARIA COITINHO ALVES)