As Cartas Psicografadas por Chico Xavier



Recebi uma carta psicografada do meu avô


Yolanda Cezar
Após parcerias com Eduardo Coutinho nos filmes Santo Forte e Jogo de Cena, Cristiana Grumbach (Morro da Conceição) decidiu encarar a direção do documentário As Cartas Psicografadas por Chico Xavier.
O longa reúne depoimentos de mães e pais que perderam os filhos e receberam mensagens póstumas. Ao final de cada história, as cartas citadas são narradas.
Em muitas cenas do filme, você parece ser cética.
Cristiana Grumbach:
 Não tenho uma religião. Não era nem me tornei espírita com o filme, mas hoje tenho uma compreensão diferente do que se passa na vida.  Creio que mantive um ceticismo respeitoso.
Você tenta se manter distante das histórias, com poucas intervenções. Por que optou por essa fórmula? Não teve medo de rodar um filme frio?
Cristiana Grumbach:
 Eu queria tratar com respeito o sofrimento das pessoas, por isso, mantive um distanciamento. Ficava muito emocionada com os relatos, estava grávida e bem frágil. Fiquei três anos trabalhando no material.
Qual dos relatos foi o mais emocionante?
Cristiana Grumbach:
 Uma carta que amo é a ditada por um rapaz chamado Augusto Cezar. Ela mexe muito comigo por lembrar a minha mãe, morta há pouco tempo na época. O finalzinho da psicografia demonstra o verdadeiro amor de um filho e isso me emociona muito. Este filme é em homenagem à minha mãe. É como fosse a minha carta de amor para ela.
O que dizia a carta?
Cristiana Grumbach: 
Sei um trecho de cor: Hoje, como antigamente, sinta-me chegando devagarinho para um abraço do coração. E ouça-me de novo a dizer ‘mamãe, eu estou com muita saudade de você, mas com muita saudade de você. Seu sorriso me iluminará como acreditando ou não acreditando no que eu dizia, para acentuar ainda mais o meu desejo de abraçá-la. Mas abraçando a meu pai e a todos os nossos no carinho que trago ao seu carinho, posso repetir mamãe, é mesmo, eu estou com muitas saudades de você. Mas o meu coração está com o seu coração para sempre. Sempre seu, Augusto César.
Durante um dos depoimentos, você diz buscar o sentido da vida. Conseguiu encontrá-lo?
Cristiana Grumbach:
 Não consegui encontrar, talvez eu precise passar o resto da minha vida pensando nisso. Mas eu acredito que viver o agora, o presente, é muito importante.

Mesmo se dizendo cética, você afirma ter tido uma experiência espiritual. Como foi?
Cristiana Grumbach:
 Em 2009, ganhei uma carta psicografada do meu avô Raul. Uma pessoa que não me conhecia recebeu uma comunicação e entregou a carta para um amigo que tínhamos em comum. Acredito que ele quis que eu entendesse melhor o mundo espiritual. A carta dele mostrou que o meu trabalho estava no caminho certo.
Você, então, acredita na vida após a morte?
Cristiana Grumbach:
 Tem uma coisa nessa carta do meu avô que me faz acreditar que nós somos seres espirituais.  Assim como a água pode ter vários estados físicos, acredito que nós também podemos. Estamos em um ambiente no qual não temos a capacidade de transitar para um outro por uma questão física. É assim que eu percebo a nossa energia vital. Hoje sou um copo dágua, que pode se transformar em vários estados.
Pretende dirigir mais filmes sobre o tema? Quais os próximos projetos?
Cristiana Grumbach:
 Meu próximo filme será Médium, um documentário que, assim como As Cartas Psicografadas por Chico Xavier, não pretende fazer sensacionalismo com o assunto, mas sim apresentar, por intermédio de relatos, histórias que possam esclarecer melhor o tema. Outro projeto em andamento é o filme que contará a história da cantora Clara Nunes, mas sem exaltação e mistificação, será uma busca pelo humano, pela poesia e pela música.
Filmes espíritas costumam se sair bem nas bilheterias. Como tem sido o desempenho do seu? Cristiana Grumbach: Tivemos uma proposta de público inferior ao esperado, mesmo assim, o filme que iniciou em quinze salas, hoje, está em dezoito por todo o país e já foi exibido em Brasília, Goiânia, Catanduva, Catalão, Campinas, Novo Hamburgo, Maceió e Vitória.
Que tipo de reação as pessoas têm ao comentar o filme com você?
Cristiana Grumbach: 
Muita gente que eu não conheço está me escrevendo falando que gostou. Um moço de Suzano, por exemplo, disse que levou amigos com ele para assistir ao filme. Também recebi críticas, como a de uma pessoa bem próxima que disse que o filme está frio, que parece existir um vidro entre eu e os entrevistados. A minha opinião é de que existe um distanciamento respeitoso, cada depoimento fala por si. Entrar no sofrimento de cada um não é fácil. Creio também que esta frieza faz parte das minhas referencias pessoais, como as poesias de João Cabral, Fernando Pessoa e Alberto Caeiro.
O fato de Nosso Lar e Chico Xavier terem sido sucessos de bilheteria influenciou na sua decisão de fazer um documentário ligado ao espiritismo?
Cristiana Grumbach: 
Não é e nunca foi uma motivação. Eu não estou fazendo cinema para ganhar dinheiro, isso é uma consequência. Fazer filmes para mim sobre esse assunto é uma forma de conhecer o novo, além de me compreender melhor. Vejo nas minhas produções uma forma de me expressar e de me realizar fisicamente. Não fiz um filme comercial.
Fonte: Veja