Procuram-se candidatos


Às vésperas das convenções de junho, que irão oficializar a lista de candidatos junto à Justiça Eleitoral, os partidos se esforçam para arrumar concorrentes a deputado federal. Altos custos, escândalos, competição desigual e campeões de voto afugentam novatos.

O emprego é bom, o salário também, viaja-se bastante – e ainda pode-se ajudar a sua comunidade, interferir nos rumos do país, talvez até se tornar uma das pessoas mais influentes da República.

Mesmo assim, faltam interessados. Às vésperas das convenções de junho, quando precisam definir suas nominatas de candidatos para as eleições de 3 de outubro, os partidos ainda correm atrás de filiados dispostos a enfrentar as urnas para concorrer a deputado federal.

Quase todas as siglas deverão deixar em branco praticamente metade da lista de candidatos que poderiam indicar (46 por legenda, ou 62 por coligação) para disputar as 31 cadeiras a que o Estado tem direito na Câmara.

Entre as grandes, a maioria deve requerer o registro de não mais de 20 a 25 nomes, casos de PMDB e PT (o último chegou a ter 34 em 1998), ou até menos, caso do PP, que pode ter cerca de 15 na coligação que fará com o PSDB. São relações comparáveis às que serão apresentadas por partidos médios e pequenos como PC do B, PSB e PV. A exceção é o PTB, que terá 38 postulantes a deputado federal.

Encontrar bons nomes sempre foi um desafio para as agremiações. Mas nunca foi tão difícil como este ano.

– Não está fácil para ninguém, todos estão se ressentindo da falta de candidatos – afirma Luiz Gheller, diretor executivo do PP.

O desencanto do cidadão com os sucessivos escândalos é uma das causas para o sumiço dos interessados, mas não a única. As campanhas cada vez mais caras, ao mesmo tempo em que se apertam as fontes de financiamento, também espantam.

– Não quero ser candidato num sistema em que preciso correr o Estado inteiro e, se receber uma doação, tenho que pedir a ficha do doador. É penoso – diz o deputado Ibsen Pinheiro (PMDB), que desistiu da reeleição.

Outro foco de desestímulo são as próprias engrenagens dos partidos, que sufocam o surgimento de novos líderes, e a competição desigual com os atuais deputados federais, que recebem R$ 16,5 mil por mês de salário, mais benefícios como verba de gabinete de R$ 15 mil e auxílio-moradia.

– Além de dispor da estrutura de parlamentar, eles podem apresentar emendas liberando até R$ 1,2 milhão. Estabelecem relação privilegiada com prefeituras e demais setores, o que distorce a disputa – afirma o deputado estadual Raul Pont, presidente do PT.

Poucos aceitam fazer número

As dificuldades para vencer esse bloqueio ficam ainda mais claras quando o aspirante a candidato faz as contas e descobre que terá de arrebanhar perto de 100 mil votos. Uma boa nominata, explica João Carlos Bona Garcia, um dos coordenadores da campanha do PMDB, deve incluir campeões das urnas, mas também candidatos que somem 20 mil ou até 10 mil votos, que ajudarão o partido a conquistar mais cadeiras. Hoje, é difícil encontrar tantos abnegados dispostos a vender o carro, se endividar no banco – e não chegar nem perto de se eleger.

– Ninguém mais aceita concorrer só para fazer número – diz o ex-deputado Celso Bernardi (PP).

O resultado é que os partidos acabam quase sempre lançando os mesmos nomes, limitando as opções do eleitor. Sobram os que já são parlamentares e os que pretendem construir uma carreira política aos poucos.

– Muitos concorrem para ficarem conhecidos na sua região e saírem candidatos a prefeito – explica Bona.

elton.werb@zerohora.com.br